NA SANTA FÉ, CENTOLA VAI COLOCAR FIAGRO NA VITRINE

Ex-Modal e Goldman Sachs assume posição paralela à que tem no Banco Master para atrair estrangeiros

Por Adriana Cotias – De São Paulo / 16/05/2022 – Valor Econômico

Eduardo Centola, ex-co-CEO do Modal e recém-contratado do Banco Master para desenvolver a distribuição e estruturação de operações fora do Brasil, tornou-se sócio e membro do conselho da Santa Fé Investimentos. A asset teve origem no family office dos Bueno, hoje faz gestão de recursos de terceiros com carteiras de ações e multimercados e tenta emplacar um fundo de investimentos para o setor agropecuário (Fiagro), com lastro em terras, que está na origem dos negócios do grupo.

Com o duplo chapéu, o executivo pretende fazer a conexão do banco e da gestora com o mercado internacional, valendo-se do relacionamento que construiu por meio das instituições por onde passou ao longo de quase três décadas – ele foi CEO do banco de investimentos do UBS no Brasil, do Standard Bank nas Américas e co-head para América Latina do Goldman Sachs e da Merrill Lynch.

Enquanto no Master ele tem a missão de buscar, por exemplo, uma aquisição para o banco nos Estados Unidos, na Santa Fé vai ser a figura institucional da porta para fora. Centola fará o meio de campo para atrair o investidor estrangeiro para o fundo de terras, uma carteira cujo retorno virá efetivamente do arrendamento, valorização e comercialização dos ativos, e não de títulos de crédito, como tem sido comum com a modalidade.

A Santa Fé obteve o primeiro registro para o Fiagro pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) em outubro de 2021, mas a oferta não decolou justamente por essa particularidade – o retorno em dividendos foi considerado baixo pelos investidores.

“O Fiagro com pura exposição à valorização de terras no Brasil é uma avenida única para investimento do capital estrangeiro que quer saber se as regras ESG [de responsabilidade ambiental, social e de governança] estão sendo seguidas da maneira correta”, diz Centola. “O foco é na terra produtiva agrícola, com monitoramento, comprar as terras e arrendar para produtores ‘AAA’, acompanhar a produção e o processo ESG. Durante o investimento, temos ingerência, e no tempo, com a valorização, vende-se o ativo como qualquer outra commodity, traduzindo isso em retorno para o investidor.”

A restrição constitucional para estrangeiros adquirirem terras no Brasil é contornada porque o fundo é que é efetivamente o proprietário. O cotista apenas se beneficia da valorização do que há no portfólio, seja com as receitas de arrendamento ou o ganho de capital pela venda do ativo. Centola acrescenta que o investidor americano está acostumado a esse tipo de estrutura porque há Real Estate Investment Trust (Reit, o equivalente aos fundos imobiliários) que faz aquisições de terrenos para construção de hotéis e cassinos, por exemplo, e que busca a valorização do ativo no tempo.

O executivo cita que o histórico de valorização de terras no Brasil é da ordem de 16%, 17% ao ano. É o tipo de investimento que poucas pessoas têm condições de fazer, a não ser que comprem fazendas. “Terras boas, produtivas e arrendadas para bons produtores têm uma taxa interessante e funcionam como um hedge natural contra a inflação e a desvalorização da moeda”, afirma.

O Fiagro casa com a origem do grupo Santa Fé, cujos sócios são produtores rurais, com patrimônio em localidades como o Tocantins e o Oeste paulista, e que também conhecem o mercado financeiro. Fernando Luis Cardoso Bueno, sócio-fundador e presidente da gestora, foi integrante do conselho da antiga Bovespa e um dos precursores da BM&F, a bolsa de futuros e commodities – hoje reunidas na B3.

“O investidor ainda está entendendo a diferença de ganhar ‘yield’ mês a mês com o fundo que empresta dinheiro [a estrutura dos fundos imobiliários e do agronegócio “de papel”, com ativos de crédito] e uma carteira que busca a valorização consistente no longo prazo”, diz Fernanda Lancellotti, head de parcerias da gestora.

Inicialmente, o fundo Terra Matter foi modelado para uma oferta pública de até R$ 500 milhões e depois redesenhado para ser um portfólio mais restrito, afirma a executiva. Centola acrescenta que a gestora tem feito um trabalho de seleção de ativos para, quando a operação for a mercado, já ter a indicação dos investimentos no prospecto. expectativa agora é captar cerca de R$ 300 milhões.

Além de conselheiro e de participar de comitês de investimentos, o executivo terá o papel de apresentar a Santa Fé para o mercado institucional e acelerar o crescimento da gestora, buscando volumes maiores – em fundos líquidos, são cerca de R$ 150 milhões. Lancellotti diz que hoje a casa reúne cerca de 5 mil investidores, com a expansão concentrada no público de varejo. A estrutura societária da empresa, que só tinha os sócios-fundadores, foi redesenhada para voos mais altos e hoje são 14 nomes na “partnership”, diz.

Apesar da atuação paralela de Centola no Banco Master, ele diz que não existe nenhum acordo entre as instituições, mas que ambas podem se beneficiar da incursão internacional.