ENTENDA O SETOR DE HEALTHCARE

Ao longo do último ano, os sistemas de saúde, em todo o mundo, enfrentaram uma crise jamais antes vista. A COVID-19 se espalhou rapidamente e levou diversos sistemas, tanto públicos quanto privados, ao colapso. As organizações enfrentaram desafios nos mais diversos âmbitos, como indisponibilidade de insumos, superlotação de hospitais, falta e sobrecarga de profissionais da saúde, dificuldades logísticas, entre outros. Apesar de a pandemia ainda não ter chegado ao fim, as organizações e os profissionais de saúde, hoje, estão mais capacitadas para lidar com os desafios. 

Além disso, a COVID não nos trouxe apenas consequências negativas: tivemos também evoluções importantes para a saúde, como a ampla adoção da telemedicina, a maior digitalização (como os prontuários e receitas eletrônicas), o desenvolvimento de novas tecnologias de vacinas e diversas novas práticas de combate a vírus.

Neste novo cenário, em que a saúde passou a ganhar ainda mais evidência, é imprescindível conhecermos e entendermos como funciona o sistema de saúde em nosso país. No texto de hoje, apresentaremos um overview do setor de saúde brasileiro, além de detalhar o mercado de saúde suplementar.

O Sitema de Saúde:

O sistema de saúde no Brasil é formado por uma combinação de recursos públicos e privados. No ano de 2019, foram gastos R$657,6 bilhões com saúde no Brasil, aproximadamente 9% do PIB do mesmo ano. Destes, mais da metade (56,5%) foram provenientes de recursos privados, sendo 26,2% relativos a gastos particulares e 30,3% relativos à saúde suplementar (operadoras de planos e seguros de saúde).

DISTRIBUIÇÃO DOS GASTOS DE SAÚDE NO BRASIL
(Fonte: ANAHP)

O Brasil tem, como uma exigência da constituição, um sistema universal de saúde. O SUS (Sistema Único de Saúde) foi criado em 1990 e oferece acesso a toda a população brasileira. Atualmente, o gasto do Estado com saúde representa aproximadamente 4% do PIB, abaixo da média da OCDE (6,5%) e de países como Chile (5,4%) e Grécia (4,9%). Especialistas ponderam que os investimentos no SUS ainda são inferiores ao desejável e, ainda, que o sistema apresenta alta ineficiência, resultando em hospitais e clínicas sobrecarregadas e que não atendem completamente às demandas da população brasileira.

Diante da dificuldade do poder público em conceder saúde de qualidade para todos, gastos privados se tornam imprescindíveis para a população brasileira. Segundo uma pesquisa do IBOPE em 2019, promovida pela IESS, ter um plano de saúde é o 3° maior desejo do brasileiro. Porém, por diversos motivos, como alta inflação médica, baixa renda per capita e baixo número de empregos formais, os planos de saúde não são acessíveis para a maior parte da população. Como resultado, apenas 22% das pessoas no Brasil possuem plano de saúde privado.

NÚMERO DE BENEFICIÁRIOS DE PLANOS DE SAÚDE E PENETRAÇÃO NA POPULAÇÃO BRASILEIRA
(Fonte: ANS e IBGE)

Saúde Suplementar:

A Saúde Suplementar é a atividade que envolve a operação de planos ou seguros de saúde, realizada por empresas conhecidas como operadoras. Essa atividade é regulada pelo Poder Público, representado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). A seguir, abordaremos algumas características desse segmento.

1. Envelhecimento da população 

Segundo o IBGE, entre 1940 a 2020, a expectativa de vida do brasileiro aumentou em 33 anos, passando de 43,1 para 76,7 anos. O instituto também prevê que a expectativa de vida irá seguir essa tendência nos próximos anos e que teremos uma inversão em nossa pirâmide etária. A Bain & Company estima que a população com mais de 60 anos representará 19% da população brasileira, em comparação com os ~15% registrados no censo do IBGE de 2019. Estudos estimam que a expectativa de vida do brasileiro poderá atingir 80 anos em 2040. 

Assim, com o aumento na representatividade de idosos na pirâmide etária brasileira, justamente a parcela que mais precisa de saúde de qualidade, espera-se cada vez mais investimentos e gastos com saúde no Brasil.

2. Penetração e fragmentação do setor

Como citado anteriormente, somente 22% da população brasileira tem plano de saúde. À medida que o nível de renda per capita aumenta e o número de empregos formais cresce, pode-se esperar que essa penetração aumente, dado que o gasto per capita com saúde dos brasileiros ainda é abaixo da média mundial. 

Em relação ao número de operadoras de saúde, observamos uma tendência de redução. No ano de 1999, existiam 1380 operadoras ativas com beneficiários. Já em dezembro de 2020, o número era de 717, uma diminuição de 48%. Além disso, no início de 2021, tivemos o anúncio de intenção de fusão entre as duas maiores operadoras verticalizadas do país, Grupo Notredame Intermédica e Hapvida, demonstrando a tendência de consolidação do setor no Brasil. Atualmente, as 11 principais operadoras de saúde atendem a aproximadamente 41% do total de beneficiários no Brasil.

NÚMERO DE OPERADORAS DE SAÚDE ATIVAS COM BENEFICIÁRIOS
Fonte: ANS

3. Correlação com o mercado de trabalho

O mercado de saúde suplementar no Brasil apresenta uma correlação muito alta com o mercado de trabalho. Segundo a ANS, 67% dos planos de saúde são empresariais, ou seja, estão vinculados com o emprego; 13% são os chamados “Coletivos por Adesão”, que são planos negociados em grupo, geralmente para pessoas vinculadas às entidades de classe (OAB, CREA, entre outros). Somente 19% são planos pagos pelo próprio beneficiário (plano individual ou familiar).

DISTRIBUIÇÃO DO NÚMERO DE BENEFICIÁRIOS POR TIPO DE CONTRATAÇÃO DO PLANO
Fonte: ANS

Vê-se que há uma forte correlação entre o mercado de trabalho e os planos de saúde, como pode ser melhor observado no gráfico abaixo. 

VARIAÇÃO DO Nº DE BENEFICIÁRIOS E VARIAÇÃO DO Nº DE EMPREGOS FORMAIS (EM MILHÕES)
Fonte: ANS

4. Verticalização 

Algumas empresas, no cenário nacional, vêm verticalizando suas operações, isto é, adquirindo hospitais e clínicas próprias para assumir o controle de todo o ciclo de tratamento do paciente, desde o atendimento básico até a cirurgia mais complexa.

O que isso traz de benefício? Com a estrutura verticalizada, a operadora pode:

  • Ter controle total dos seus procedimentos e processos;
  • Evitar o conflito de interesses, favorecendo a qualidade dos procedimentos em detrimento da quantidade;
  • Integrar a cadeia da saúde, coletando dados em todas as fases do tratamento do cliente e fornecendo insumos para a medicina preventiva.

Com isso, a operadora se torna uma gestora da saúde, possibilitando a redução de custos e de desperdícios e, consequentemente, podendo oferecer serviços de melhor qualidade e com preços mais acessíveis.

5. Cuidados primários e telemedicina

Recentemente, tem-se dado cada vez mais atenção aos cuidados primários, que se baseiam em contatos simples e constantes com os pacientes. Dessa forma, ações preventivas ocorrem com mais regularidade, levando a descobertas de doenças ainda em estágio inicial e evitando possíveis internações desnecessárias, procedimentos cirúrgicos e até o desenvolvimento de doenças crônicas. Com isso, a operadora de saúde consegue conhecer melhor cada cliente, entendendo os riscos de cada um e utilizando-se de dados e inteligência artificial para aprimorar sua medicina preventiva. Tudo isso resulta em ganho de eficiência, qualidade e, também, redução de custos. No âmbito do cuidado primário, a telemedicina tem um papel fundamental. A telemedicina consiste no atendimento médico e diagnóstico de forma remota, permitindo a interpretação de exames e a emissão de laudos médicos à distância. Com essa ferramenta, é possível manter um contato constante com o paciente de forma simples, rápida, frequente e com menores custos.

6. Performance Setorial – Principais operadoras versus IBOVESPA

No gráfico abaixo, analisamos a performance das três principais empresas do setor de saúde suplementar do país, Grupo NotreDame Intermédica, Hapvida e SulAmérica, comparada com a do Indice Bovespa desde 2018. Observa-se que as três empresas tiveram desempenho superior ao índice nos últimos anos, porém, com destaque especial para as verticalizadas, NotreDame Intermédica e Hapvida.

PERFORMANCE DAS AÇÕES EM BASE 100 (ATÉ 01/04/2021)
Fonte: Economática