NVIDIA: BOLHA OU FUNDAMENTO?
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Desde o seu IPO na bolsa de valores de Nova York, em 1999, o valor das suas ações saiu de US$0,04 para US$146, ou seja, uma valorização acima dos 360.000%. Nos últimos 5 anos, uma alta superior a 2.800%. Recentemente, ultrapassou a Apple como a empresa mais valiosa do mundo. Mas afinal, quem é Nvidia e qual seu modelo de negócios? O que justifica seu crescimento e impacto no mercado? Como ela se relaciona com inteligência artificial? E qual sua influência para as principais empresas de tecnologia do mundo?
Gráfico 1: Evolução do preço da ação de NVIDIA
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Fundada em abril de 1993 e com sede em Santa Clara, na Califórnia, a Nvidia é uma companhia americana especializada na fabricação de processadores, também conhecidos como chips. Por não possuir fábricas próprias, a empresa licencia seus designs para outras fabricantes, que produzem as GPUs com certa liberdade para realizar modificações. Embora a Nvidia projete os chips, a produção é terceirizada para parceiras, como a taiwanesa TSMC, a maior fabricante de semicondutores do mundo.
Quando iniciou suas atividades na década de 90, a multinacional de tecnologia estava focada em produzir chips que fizessem parte do desenvolvimento de videogames e auxiliassem nas funções visuais, como por exemplo, processar melhor as imagens, vídeos e animações.
Em meio a um crescimento tecnológico exponencial com o passar dos anos, a grande sacada dos fundadores da empresa foi descobrir que suas unidades de processamento gráfico, os GPUs, poderiam ser utilizados também para outras atividades importantes, como acelerar o desempenho das unidades centrais dos computadores e realizar cálculos de inteligência artificial.
Alguns outros pontos da sua história auxiliam a entender como foi seu crescimento até se tornar a empresa mais valiosa do mundo e uma das mais importantes. Em 2005, desenvolveu um processador para o Playstation 3, da Sony. Um ano depois, é apresentada a arquitetura CUDA (Compute Unified Device Architecture), uma plataforma de computação paralela e modelo de programação, permitindo desenvolvedores realizar cálculos gerais e acelerar tarefas. Já em 2007, além de ser nomeada pela Forbes como a companhia do ano, também atingiu seu primeiro trimestre com 1 bilhão de dólares em receita.
A partir desse momento, podemos dizer que foi a virada de chave para a mudança e o crescimento da companhia. Essa novidade chamou a atenção de gigantes como Microsoft, Google e Amazon, que identificaram nos processadores uma forma de impulsionar seus centros de dados. E então, desde 2014, a NVIDIA passou a focar em diversos mercados como jogos, data centers, criptomoedas e inteligência artificial, ou seja, o suprassumo da Revolução Industrial 4.0.
Imagem 1: Modelo do processador Tegra 3 – NVIDIA
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Além do principal modelo de negócios, a fabricação de GPUs, a companhia também oferece recursos de processamento paralelo para pesquisadores e cientistas, otimizando aplicativos de alto desempenho em supercomputadores globais. Recentemente, entrou no mercado de computação móvel, produzindo processadores Tegra para smartphones, tablets e sistemas automotivos. Seus principais concorrentes são AMD, Intel, Qualcomm e Arm, cujas tecnologias também são licenciadas pela própria NVIDIA.
Tudo isso se traduz na importância que a empresa tem para o mundo tecnológico hoje em dia. Com o boom da inteligência artificial nos últimos anos e o inegável impacto positivo que a acompanha, como ganhos em eficiência e produtividade, os grandes players de tecnologia lançaram suas próprias plataformas, gerando uma grande demanda e competitividade no mercado. A partir disso, a NVIDIA entra em jogo como o ponto comum entre todas elas: ser a principal fornecedora de processadores para essa inovação, atualmente dona de mais de 80% do mercado.
Para ilustrar seu porte, a Nvidia possui um valor de mercado superior a 3,4 trilhões de dólares, uma receita anual próxima de 100 bilhões de dólares e conta com quase 30 mil funcionários.
As divulgações trimestrais de seus resultados se tornaram marcos no mercado financeiro, servindo como um indicador para o sentimento de oferta e demanda ainda presentes no mercado de inteligência artificial. Ao mesmo tempo, as gigantes de tecnologia ditam o ritmo a medida em que seus números divulgados de capex refletem o tamanho dos investimentos e dão sinais da continuidade das vendas para os processadores.
A demanda pelos processadores da Nvidia tem crescido exponencialmente. O interesse pelos caros processadores gráficos utilizados em servidores que treinam grandes modelos de IA, como o ChatGPT, desenvolvido pela OpenAI, colocou a Nvidia em uma posição de destaque entre as gigantes da tecnologia. Especialistas destacam que seus chips são amplamente considerados os mais eficientes para essas tarefas, consolidando sua liderança no mercado de GPUs. Como resultado, a demanda pelo chip H100, um dos principais produtos da empresa, é tão elevada que alguns clientes enfrentam filas de espera de até seis meses para adquiri-lo.
Gráfico 2: Evolução de Receita Líquida e Lucro Líquido de NVIDIA
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Apesar desse cenário favorável, surgem dúvidas sobre a longevidade da demanda e dessa posição dominante da companhia. Analistas acreditam que, dentro de aproximadamente um ano, a oferta de chips poderá se estabilizar com a entrada mais robusta de competidores como AMD e Intel nesse mercado. Ainda é incerto se a Nvidia conseguirá sustentar sua liderança ou se será desafiada por seus rivais. Por ora, a empresa se beneficia de uma demanda insaciável e uma oferta limitada, mas a evolução tecnológica e a concorrência crescente poderão mudar esse panorama no futuro próximo.
Por fim, nada melhor do que mostrar isso na prática. A NVIDA reportou ontem, na quarta-feira (20), os seus resultados trimestrais referentes ao 3º trimestre do seu ano fiscal de 2025. Em resumo, a empresa divulgou números que excederam as expectativas do mercado em sua maioria, com destaque para a receita de US$35,1 bilhões, crescendo 94% em comparação ao mesmo período do último ano. Porém, o ritmo de crescimento desacelerou e a orientação para o 4º trimestre, apesar de forte, também desapontou os investidores.
Assim, mesmo com o resultado positivo, o conceito da “esteira hedônica” pode oferecer uma explicação: à medida que conquistas excepcionais se tornam recorrentes, as expectativas dos investidores se elevam, exigindo resultados cada vez mais extraordinários para manter o entusiasmo.
Nesse momento, são constantes também os discursos de boa parte dos analistas do mercado sobre a “bolha de IA estar estourando”. Basicamente, esse ponto de vista é fortalecido, entre outros pontos, pelos excessos de expectativas e capitalização da companhia, alinhado à competição acirrada e à regulação do setor.
Além dos resultados financeiros, outra maneira de entender a posição da Nvidia no mercado é por meio de sua avaliação por múltiplos, que indicam uma valorização elevada em comparação com seus concorrentes e a média do setor. Atualmente, por exemplo, a empresa negocia a um preço por lucro (P/E) de 27,5x e a um EV/EBITDA de 22,1x, ambos projetados para 2025. Esses números refletem não apenas o crescimento das suas receitas, mas também as altas expectativas dos investidores quanto ao futuro da inteligência artificial e sua capacidade de manter a liderança no fornecimento de GPUs.
De certa forma, a ‘bolha’ parece estar mais relacionada ao excesso de expectativas do que ao colapso real da tecnologia. A IA provavelmente passará por um período de amadurecimento, no qual projetos superestimados desaparecerão, mas os mais sólidos e úteis permanecerão. O futuro parece ainda promissor.
Em conclusão, a NVIDIA se destacou como uma das empresas mais influentes da tecnologia, impulsionando avanços em inteligência artificial e computação de alto desempenho. Apesar dos desafios de concorrência e regulação, sua base tecnológica sólida e a relevância de seus produtos indicam que a empresa continuará desempenhando um papel estratégico no futuro da indústria tecnológica.
Publicado por
Bernardo Gomes Lamas de Carvalho
Partner & Investment Analyst at Santa Fé Investimentos