A Balança do Mercado
O famoso químico Antoine Lavoisier uma vez disse: “Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. Essa provavelmente é a frase que melhor sintetiza qualquer movimento da sociedade. Tomemos por exemplo os rios, um dos elementos naturais mais dinâmicos na Terra. São, historicamente, provedores de vida e grandes impérios se ergueram em suas margens. Diversos fatores externos podem alterar o seu equilíbrio e assim causar problemas em seu curso de água, como por exemplo: assoreamento e erosão. Para compreender o seu equilíbrio e como se transformam, em 1955, Lane introduziu o conceito da Balança de Lane
Essa tese propõe que diversos processos morfológicos dos rios podem ser representados por uma balança e que esta, quando desajustada, buscaria encontrar uma nova condição de equilíbrio. Assim a natureza se “transformaria” novamente.
Esse conceito é bastante interessante quando pensamos que, tanto em rios e na natureza, quanto no Mercado Financeiro, a alteração de uma variável leva a um desequilíbrio total do sistema e, consequentemente, a mudança das demais variáveis. Um dado de produção têxtil na Austrália ou uma queimada no interior da Rússia podem ser determinantes para tornar os preços de empresas brasileiras distorcidos e assim causar um rearranjo de todos os componentes. Como previstos por Lavoisier, “Tudo se transforma”.
A epidemia do COVID-19 causou um enorme desequilíbrio no Mercado e na própria sociedade. Presenciamos alguns “circuit breakers”, vimos analistas errando todas as suas previsões e teses de investimento sendo desconstruídas. No entanto, assim como um rio, quando a balança tende para um lado, o outro se manifesta. Quando realizamos uma obra de expansão da seção de um curso de água, este tende a depositar sedimentos para retornar a situação natural. No mercado, vemos o mesmo processo, quando os preços caem demais e o clima de aflição se instaura. Sabe-se que, cedo ou tarde, retornará à condição de equilíbrio e teremos novamente a “Balança do Mercado” satisfeita.
Tomemos por exemplo o principal índice de ações do Brasil, o Ibovespa, em duas situações de fatores externos fortes como na crise de 2008 e agora com a crise do coronavírus.
No primeiro gráfico, o que se nota é que durante a crise financeira de 2008 o Ibovespa sofreu e teve perda significativa de pontos. No entanto, após o “grande desequilíbrio”, a “Balança do Mercado” atuou e levou a uma considerável recuperação nos anos de 2009 e 2010. Portanto, seria possível prever que no segundo gráfico haveria uma recuperação do índice ?
Essa resposta não é clara e muito menos óbvia. Um rio, quando sofre uma alteração severa em seu curso, muitas vezes busca um novo caminho diferente do anterior. No mercado, grandes crises simbolizam mudança de rumo.
Compreende-se que houve uma queda acentuada em um período de tempo muito curto e que a situação encontra-se em desequilíbrio. Mas novamente, “Tudo se transforma”. Estamos presenciando fatos inéditos como o barril de petróleo sendo negociado a preços negativos e algumas “certezas” sendo negadas. Empresa sólidas com seu futuro incerto, por exemplo Azul Linhas Aéreas, e o próprio governo não sabe qual será o seu destino. Talvez a única verdade que temos hoje é que o nível atual dos preços é falso.
No entanto, assim como um rio, o mercado retornará a seu equilíbrio. Teremos novamente uma movimentação funcional como um curso de água claro. A única certeza é que daqui pra frente seguiremos um caminho diferente do anteriormente traçado.