A DEPENDÊNCIA DA UNIÃO EUROPEIA AO PETRÓLEO E GÁS NATURAL DA RÚSSIA
A guerra entre a Ucrânia e Rússia foi destaque nos noticiários globais nos últimos meses e, apesar da notável distância entre esses países e o Brasil, foi possível sentir o impacto desse conflito em terras nacionais. A repercussão do embate entre os países europeus refletiu no preço de algumas importantes commodities energéticas e seus subprodutos devido aos temores de que o conflito poderia prejudicar a oferta desses materiais básicos e importantes produtos acabados.
Após a invasão da Ucrânia, os EUA, a União Europeia e o Reino Unido anunciaram restrições às importações russas, dentre outras sanções econômicas. Os EUA declarou uma proibição total das importações russas de petróleo, gás e carvão. O Reino Unido se comprometeu a eliminar gradualmente o uso de petróleo russo até o final do ano e a União Europeia (UE) está reduzindo as importações de Gás Natural Liquefeito (GNL) em até dois terços do que era importado antes da guerra.
A Rússia alertou que a proibição de seu petróleo levaria a “consequências catastróficas para o mercado global”. Desde a invasão da Ucrânia, os preços do petróleo e do GNL subiram expressivamente, contribuindo para a alta da inflação global que já vinha pressionando as economias desde o começo da crise do COVID-19.
Com a redução de importação de petróleo russo, o país tem sido pressionado a produzir menos volumes da commodity. A produção de petróleo bruto russo começou a sentir os efeitos das sanções impostas pelos países citados acima, e auto sanções dos compradores em março. De acordo com um relatório da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP+), divulgado na semana passada, o país estava 300.000 barris por dia (bpd) abaixo da meta de produção mensal.
Dados operacionais registrados nas duas primeiras semanas de abril apontam que a produção de petróleo da Rússia tenha diminuído 10% desde o início da invasão russa na Ucrânia. A produção na primeira quinzena de abril foi, em média, próxima a 10,2 milhões de barris por dia, o que é substancialmente inferior à produção de 11,1 milhões de barris por dia registrada em fevereiro e 11 milhões de bpd em março de 2022.
No início de abril, a produção russa de petróleo havia caído 700.000 bpd, de acordo com a Agência Internacional de Energia (AIE). A AIE diz que o declínio pode ainda piorar e chegar a 1,5 milhão de bpd até o final de abril, e até cerca de 3 milhões a partir de maio.
A Rússia é o terceiro maior produtor mundial de petróleo, ficando atrás dos EUA e da Arábia Saudita. Dos cerca de cinco milhões de barris de petróleo bruto que ela exporta todos os dias, mais da metade foi para a Europa, antes que as sanções fossem anunciadas. A Rússia também tem um posicionamento importante no ranking mundial de produtores de gás natural, ocupando a segunda posição.
Especialistas do setor dizem ser mais fácil encontrar novos fornecedores alternativos para petróleo do que para o GNL, devido à maior pulverização no número de países que produzem e exportam a primeira commodity. Alguns membros da AIE anunciaram e abril que liberariam o equivalente a 120 milhões de barris de seus estoques estratégicos de petróleo – a maior liberação de sua história. O presidente dos EUA, Joe Biden, ordenou uma grande liberação de petróleo das reservas americanas, como um esforço para reduzir os altos custos do combustível e assim, aliviar a inflação no país. Os EUA também querem que a Arábia Saudita aumente sua produção de petróleo, juntamente com a OPEP+ e busca conversas com a Venezuela para determinar a flexibilização das sanções sobre o petróleo venezuelano.
Sobre a dependência da UE do GNL russo, de acordo com a Administração de Informações sobre Energia dos EUA (EIA), os países da União Europeia e o Reino Unido importaram mais de 80% do gás natural que consumiram em 2020, ante 65% registrado uma década atrás. Desses volumes de gás natural importados, a UE recebe a maior parte, cerca de 74%, através de gasodutos. O restante chega na forma líquida, normalmente em navios de carga especializados.
A Rússia é o maior fornecedor do combustível para os países da UE, com cerca de 35% do total das importações, todas provenientes de múltiplos gasodutos, muitos dos quais atravessam a Ucrânia, a caminho de países da Europa Central. Essa facilidade de transporte do gás natural, via gasodutos da Rússia, fez com que a procura por novas fontes de originação da commodity nos últimos anos fosse limitada e garantiu a dependência dos países europeus ao gás russo.
Em busca de aliviar os preços do GNL, os EUA, em abril de 2022, concordaram em enviar mais 15 bilhões de metros cúbicos de gás natural para a Europa, até o final deste ano. O objetivo é fornecer 50 bilhões de metros cúbicos por ano de gás adicional, até pelo menos 2030. Uma outra alternativa para substituir o consumo, por países europeus, de petróleo e gás natural russos é o uso de outras fontes de energias renováveis, como a fotovoltaica, eólica e hidroelétrica, porém a implantação e construção das usinas e infraestrutura de transmissão é cara e demora de ser implementada.
Em virtude dos fatos mencionados e considerações feitas, espera-se que os países da União Europeia diminuam a sua dependência das importações de commodities energéticas russas. Tais movimentos, além proteger o grupo econômico e seus integrantes da falta de oferta desses produtos em futuros conflitos entre a Rússia e seus vizinhos, também tornaria o mercado mundial mais pulverizado e menos sensível aos conflitos geopolíticos.
Publicado por
Pedro Massi de Brito
Partner & Investment Analyst at Santa Fé Investimentos