Em tempos de alta volatilidade, sempre me perguntam: Qual é a melhor hora para entrar em um papel? Quando percebemos que chegou o momento de realizar lucros? Em tempos de crise no mercado, novas oportunidades surgem hora a hora, às vezes, minuto a minuto. Mas há um momento tão importante quanto entrar e/ou sair de uma posição e que poucos consideram. É o momento de não fazer nada. Pode parecer dicotômico, mas não fazer nada, em muitas ocasiões da vida é fazer muito. Ao longo da minha carreira no mercado, aprendi que saber o momento de tomar a “Postura de Observador” nos tira do automático, centra nosso raciocínio e principalmente clareia nossa visão para podermos dar sequência nas tomadas de decisões.
Confesso a vocês que não é fácil conquistar esta capacidade da inércia ativa. Vivemos em uma sociedade ansiosa por natureza, fomos ensinados, desde pequenos a fazer, realizar e demostrar resultados. Talvez essa tarefa seja mais fácil para os orientais (japoneses, chineses, indianos), que são educados a meditar, respirar, observar antes de fazer. Por aqui não é bem assim, muito pelo contrário. Muitas vezes observar pode parecer falta de atitude, falta de personalidade ou até medo. Lutar contra tudo isso, de dentro para fora é uma tarefa árdua.
Ser observador não significa apenas olhar, mas sim afastar-se do curto prazo, colocar-se a uma certa distância, olhar o conjunto, o macro. Ampliar a visão. Desta forma novas rotas são encontradas, curvas, atalhos, saídas que de dentro do olho do furacão é impossível perceber.
Nada melhor que a maturidade e as experiências vividas para nos mostrar a importância da Postura de Observador. Quem trabalha no mercado financeiro, neste dia a dia frenético do “compra e vende” pode viver 1 ano em 10 dias, como o que aconteceu neste Março de 2020. Inteligentes os que percebem mais rapidamente, observaram, absorveram e cresceram com tudo isso.
Conosco aqui na Santa Fé não foi diferente. Ao longo da nossa história, já vimos muitas crises, tanto aqui no Brasil recentemente com a Crise do Governo Dilma de 2012 até 2016, ou mais antigamente, com a crise do Plano Collor no início da década de 90 (que precedeu umas das maiores altas da Bolsa Brasileira nos anos seguintes), quanto no Exterior, como a Crise do Subprime em 2008 ou o ataque às Torres Gêmeas em 2001, as Crises da Rússia, da Ásia e as tantas crises dos nossos vizinhos argentinos. Em todas elas, foi necessário, em determinados momentos, parar, observar para depois agir. Foi exatamente o que aconteceu no caso desta queda tão brusca em nossos mercados imposta pela crise do COVID-19. De um dia para o outro viemos de 119 mil pontos do Ibovespa para 63 mil pontos. Nesse caso, não deu tempo de agir antes de observar. Foi uma queda brutal, recorde em intensidade e tempo. Mas, graças à nossa estratégia de controle de risco e gestão dos Fundos, não ficamos reféns de ordens de stop vindas de cima para baixo, como vimos alguns gestores serem obrigados a fazer. Investimos em grandes empresas, sólidas, líderes de mercado em seus setores, temos limites de exposição controlados com rigidez em cada uma de nossas posições. Graças à confiança na nossa filosofia de investimento, conseguimos acalmar nossas mentes e encarar de frente essa situação, enquanto nos preparávamos para lançar mão de todas as armas que tínhamos para vencer.
Essa lucidez resultou no desenho de uma estratégia de recuperação bem embasada, criativa e eficiente. No Aquarius, nosso FIM, temos mandato para ficar comprados em até 50% em Bolsa, mas no momento da Crise estávamos mais leves, com apenas 40% de exposição, e também podemos realizar operações diversas, como investimentos no exterior através de BDRs ou ETFs negociados na B3, aplicações em Fundos Imobiliários, os famosos FIIs, trabalhar com Câmbio e títulos de Renda Fixa de longo prazo, mas estávamos fora de todas essas estratégias. Com isso, após as fortes quedas de Março de 2020, mesclamos algumas destas possibilidades para recuperar nossa performance, somando o fato de termos 60% do PL do Fundo em liquidez pura, o que nos deu flexibilidade e possibilidade para agir. Dito isso, observamos, analisamos os caminhos dos mercados, as assimetrias dos retornos e seus riscos e depois agimos.
Na prática: Utilizamos nossa liquidez para, nas mínimas da baixa, ampliarmos nossa exposição para próximo do máximo de 50%. Montamos uma Carteira de Fundos Imobiliários, aproveitando o momento de valuations e yields completamente distorcidos. Percebemos a diferença entre os mercados brasileiro e americano e acreditamos na maior velocidade de recuperação do S&P 500, montando uma posição em ETF de S&P 500. E depois? Observamos.
O resultado foi excelente. Em menos de 8 semanas recuperamos 90% das perdas do fundo, tendo realizado certamente uma estratégia vencedora. Estamos bastante felizes e satisfeitos, mas cientes que nosso trabalho é contínuo e que devemos buscar muito mais.
Nossa estratégia é vencedora a longo prazo, e o que vamos fazer para conquistar nossos resultados no futuro? Aposto que depois de ler este texto, você já sabe a resposta. social