Muita gente não sabe mas a Taxa Selic, definida pelo Comitê de Política Monetária – Copom, foi criada no dia 5 de março de 1999 em uma reunião extraordinária pela manhã, que mudou a forma de definir os juros, encerrando o antigo sistema de bandas em que a TBAN balizava o teto e a TBC o piso.
Foi a primeira reunião do então presidente do BC Armínio Fraga que determinou que a SELIC passaria a ser a única taxa a sinalizar os juros para toda a economia. Também foi instituído o uso do viés que autorizava o presidente do BC a mudar os juros, na direção do viés, a qualquer momento sem consultar o Copom.
Nascia naquela reunião o Sistema de Metas de Inflação que seriam perseguidas com as políticas monetária e fiscal e que é usado até hoje!
No dia seguinte, a manchete do jornal O Globo estampava em letras garrafais que a Taxa Selic agora era de 45% ao ano ante os 39% anteriores, ou seja, o BC, surpreendendo o mercado, havia subido o juros em 6 pontos percentuais ao ano, em uma reunião de emergência para conter a escalada da inflação.
Agora, 6 de maio de 2020 o BC, novamente surpreendendo o mercado, em uma reunião ordinária e por decisão unânime, reduziu a Selic para 3% ao ano já sinalizando que na próxima reunião um novo corte de 0,50 ponto percentual deverá ocorrer, podendo chegar a 0,75%, e já há quem diga que talvez caia ainda mais. O mesmo jornal O Globo deu pequeno destaque para essa notícia tão relevante.
Evidente que são momentos muito diferentes. Hoje enfrentamos uma pandemia inédita e global. As economias, pelo mundo todo, deverão apresentar quedas expressivas em seus PIBs e aqui no Brasil não será diferente. Com todo esse cenário, a inflação não é, nem será um problema nos próximos meses, talvez anos.
Estamos vivendo um momento novo para o Brasil. Juros baixos como nunca tivemos, e, sempre é bom lembrar, que para cada 1 ponto percentual de queda na Selic o governo deixa de pagar R$ 40 bilhões em juros da dívida. E mais, um Dólar valorizado nos níveis atuais, tem um efeito extremamente positivo nas contas do governo, já que temos mais de US$ 300 bilhões em reservas.
O ministro Paulo Guedes sempre disse que juros mais baixos e dólar mais valorizado seriam a dinâmica da sua política econômica e mesmo com todo o aumento de gastos que o governo está sendo obrigado a fazer para mitigar os efeitos da pandemia do Covid-19 para as empresas e para a população mais carente, as diretrizes da política econômica tem sido as mesmas, sempre amarradas na volta da agenda reformista e do controle de gastos, assim que a crise na saúde e na economia permitirem.
O desafio é enorme, mas graças à capacidade da atual equipe econômica que de longe é a melhor dos últimos tempos, estamos enfrentando esse “meteoro” com a Taxa Selic a 3% e com perspectiva de cair ainda mais e ficar por um bom tempo nesses níveis, o que nos alimenta a esperança por tempos melhores.
A migração de recursos da renda fixa para a renda variável principalmente das pessoas físicas, que já temos observado nos últimos meses deverá se acentuar com a Selic ao redor de 2%. Sem dúvida uma grande oportunidade para investir em empresas bem geridas e com boa governança. A gestão dos nossos Fundos segue essa direção.
Resta-nos fazer a nossa parte e aguardar que essa pandemia passe, certos de que se a Selic fosse aquela de março de 1999 as perspectivas para o nosso futuro seriam muito piores.