A “Carta aos Brasileiros” de Lula e a “Declaração à Nação” de Bolsonaro.
Pouco antes de vencer as eleições para o seu primeiro mandato, o então candidato Lula divulgou a “Carta ao Brasileiros”. Foi um movimento ao centro que conquistou as elites e o mercado financeiro e foi decisivo para sua a vitória nas urnas.
Agora, o ex-presidente Temer surge como salvador da pátria num, momento de impasse, aconselhando o presidente Jair Bolsonaro a divulgar uma carta chamada “Declaração à Nação” visando reafirmar seu respeito às Instituições da República e à Constituição. Parece simples. Afinal um presidente deve esse respeito, mas o próprio presidente reconheceu que isso foi colocado em dúvida durante as manifestações do dia 7 de Setembro, “pelo calor do momento”.
As palavras do presidente nessas manifestações potencializaram os atritos entre os Poderes, colocando muitas dúvidas em torno do andamento da agenda econômica do governo no Congresso e para agravar ainda mais a possibilidade de uma paralisação de caminhoneiros voltou a assombrar a população e a Faria Lima.
Ao presidente restou decidir se insistia no confronto, com a possibilidade real de um agravamento dos problemas econômicos e sociais, ou recuava desagradando sua base mais radical. As consequências dessa decisão ficaram claras para o presidente: se optasse pelo confronto teria muita dificuldade de manter-se no cargo; se recuasse teria alguma chance de contornar a situação.
É necessário reconhecer que o presidente Bolsonaro foi muito hábil ao recorrer ao ex-presidente Temer, político experiente com trânsito no Congresso e principalmente com o Ministro Alexandre de Moraes, indicado por ele ao STF e principal alvo das manifestações de 7 de setembro. A “Declaração à Nação “, escrita pelo próprio Temer, serviu para baixar a temperatura e deu alguma sobrevida política ao presidente Bolsonaro mantendo acesa a chama da reeleição.
Apesar do diálogo ter sido restabelecido, ao que parece foi um divisor de águas no governo Bolsonaro. Nesses próximos meses que ainda restam para as eleições, o tom deverá ser outro, com menos atrito, menos barulho mas também menos poder. O Congresso deverá liderar as mudanças, inclusive a velocidade e o teor das reformas tão demandadas pela equipe econômica e tão importantes para um crescimento mais sustentável. Merecem destaque a Reforma Tributária, a questão dos precatórios e outras pendências importantes que estão paradas no Senado.
Não haverá golpe, nem impeachment e nem ruptura institucional. O ambiente segue polarizado e a proximidade das eleições vai aumentar as tensões, mas nossas instituições se mantiveram fortalecidas.