As últimas duas semanas assustaram muita gente! Afinal fazia tempo que o Ibovespa não caia tanto e tão rápido.
Não é a primeira vez que vivemos algo semelhante nesses últimos 30 anos de mercado e nem será a última, mas todas as vezes que uma queda abrupta como essa acontece, volta a reflexão sobre as possibilidades de sair ileso de um evento tão agudo como está pintando ser essa crise do Coronavírus, como foi a crise do subprime em 2008 ou mesmo a crise asiática no final da década de 90.
Vale a pena ter um hedge constante? Pagar um prêmio alto por seguros? Ter uma estratégia de proteção constante? Quando estamos vivendo a crise, como agora, temos uma tendência a achar que sim, vale a pena pagar pra se proteger, ter uma estratégia de defesa sempre constante! Uma análise mais profunda e criteriosa não nos leva a essa conclusão.
Uma crise dessas acontece a cada 10 anos em média. Desde que comecei no mercado tivemos realmente uma crise de verdade em 1989/90 com a quebra do Naji Nahas e o Plano Collor; em 1997/98 com a crise asiática; em 2008/9 com a crise do subprime e quebra do Lehman Brothers e agora se delineia a crise do Coronavírus. Tivemos outras duas dezenas de ajustes, considerando como tal uma queda de 10% em relação ao topo anterior, mas todos novamente superados em algumas semanas.
Excluindo 89/90, que foi um problema interno nosso aqui no Brasil, todas as outras crises foram precedidas de movimentos muito fortes de valorização nas bolsas e também sucedidas por movimentos ainda maiores sempre superando as máximas anteriores com folga.
Esta constatação nos leva, obrigatoriamente, a uma reflexão: vale a pena gastar tempo, energia e principalmente muito dinheiro para se proteger desses eventos?
Quando você investe em empresas bem geridas, com boa governança que atuam em setores e negócios promissores, as baixas durante as crises tendem a ser menores e a recuperação mais rápida e intensa; afinal mesmo com a crise o negócio continua gerando caixa e os lucros continuam crescendo. Lojas Renner é um exemplo disso. Passou por diversas crises sendo mais resiliente na baixa e se recuperando de forma espetacular na sequência; como ela outras empresas também se comportaram e tem potencial para seguir se comportando desse jeito.
O investimento em ações é assim, passa por momentos mais e menos complicados, mais e menos virtuosos, mais e menos prósperos. Nos meus mais de 30 anos no mercado não conheço nenhuma história de sucesso que passe por uma estratégia onde acertar o momento exato de vender seja a estratégia principal, mas conheço várias que contemplem uma estratégia de seleção criteriosa e correta de empresas virtuosas para se investir no longo prazo.
Estamos vivendo mais uma vez, porque a história se repete a cada crise, os dias de sucesso dos profetas da crise e porque não dos gestores da crise. É preciso muita cautela nessa hora. Quanto aos profetas eu diria que aqueles que ficam sempre alardeando crises iminentes tendem a acertar algumas vezes talvez de 10 em 10 anos e não conheço nenhum profeta desses que tenha feito fortuna. Os profetas que pregam o fim do mundo também devem acertar um dia…ainda que não estejam mais aqui entre nós… Finalmente existem os gestores de cada crise, aqueles que acertaram na mosca e ficaram fora ou até ganharam com a crise (difícil achar quem ganhou muito). Curioso que nunca são os mesmos. Logicamente não se acerta todas as crises. Eu diria até que acertar duas já seria muito difícil, o importante aqui é saber quanto custou esse acerto, quanto custou ficar de fora da festa enquanto ela durou e, mais importante, se valeu a pena.