Para realizar uma análise detalhada do sistema de utilities brasileiro, é preciso entender a fundo a matriz energética do país e sua consequente dependência de recursos hídricos. Recentemente, fomos bombardeados na mídia por notícias alarmistas sobre uma possível crise por falta de chuvas na região sul e sudeste. Um evento muito semelhante ao ocorrido entre os anos de 2014 e 2016. No entanto, para começo de qualquer estudo ou conclusão do cenário que teremos que enfrentar, devemos primeiro compreender os motivos pelos quais chegamos nesta situação.
O início de qualquer análise hidrológica se inicia pelo estudo da pluviometria da região, isto é a média de precipitação que a região destacada apresentou. Para orientar estes dados, devemos levar em conta que os anos de 2020 e 2021 foram anos de retorno do fenômeno do La Niña, um processo climático em que diminui a temperatura da superfície das águas do Oceano Pacífico Tropical Central e Oriental. Em termos práticos, o La Niña é responsável por levar uma intensidade maior de chuvas para a região Norte e Nordeste do Brasil e uma redução na porção Sul e Sudeste. Portanto, com uma menor quantidade de chuvas, há uma menor vazão de água nos reservatórios atingindo diretamente o abastecimento de água e a geração de energia elétrica, pela via hidráulica, na região. Quantificando melhor o tamanho do problema, o Sistema Cantareira que é responsável pelo abastecimento de 7,5 milhões de pessoas ou 46% da população da Região Metropolitana de São Paulo, segundo a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (SABESP), está operando com somente 48% da sua capacidade, contra 58,8% em 2020 e 59% em 2013, antes da última grande crise hídrica do país.
Entendendo o como chegamos a um ponto tão alarmante em nossos reservatórios, a pergunta que nos resta fazer é: Como podemos agir para proteger nosso patrimônio em um cenário desafiador como este? A melhor resposta pode ser obtida diretamente do livro Princípios de Ray Dalio: “ É melhor estar ciente do que aconteceu a outras pessoas em outros tempos e outros lugares, senão você não saberá se está suscetível e, caso se concretize, não saberá como lidar com elas”, em outras palavras, para melhor entender o futuro vamos analisar os eventos passados. Dessa forma selecionamos algumas das principais ações de utilidade pública: Transmissão Paulista do setor de transmissão, CESP do setor de geração, Equatorial de distribuição e Sabesp de saneamento para nos auxiliar nesse processo. A performance das ações no período de 2013 a 2017 está no gráfico abaixo:
Algumas das principais conclusões que podemos depreender do gráfico acima:
Examinando todos os pontos acima, conseguimos estruturar uma visão do passado e tentar prever o comportamento do que podemos enfrentar nos próximos meses com este novo cenário desafiador. Empresas de transmissão parecem ser uma boa pedida com certa dose de segurança e empresas focadas em regiões diferentes e, principalmente, matrizes energéticas alternativas como carvão, eólica e solar podem surpreender positivamente. De outro lado, as empresas mais tradicionais e focadas no uso excessivo de água, devem ter um desempenho abaixo da média.
Vale destacar também o próprio cenário político e como o governo Bolsonaro atuará para não impor medidas impopulares que prejudiquem o ano eleitoral em 2022. O Brasil hoje também possui uma maior capacidade de transmissão de energia pelo SIN e isso deve favorecer para que não ocorram apagões como em 2001. Apesar de todas as reflexões acima, ainda devemos nos nortear pela máxima: “Performance passada não é garantia de rentabilidade futura” e ficar bem atentos aos próximos eventos que devemos enfrentar. Peculiaridades dos tempos atuais devem surgir e certamente teremos uma dose de efeito da pandemia nesta nova crise hídrica, o que nos resta hoje é estudar e nos mantermos atentos as “cenas dos próximos capítulos”.
Publicado por: Gabriel Diniz Junqueira
Partner & Investment Analyst na Santa Fé Investimentos