Meu filho mais novo acabou de completar 18 anos. Sinto-me realizada como mãe e como educadora financeira para ele, que acabou de investir 70% do seu presente de aniversário!
Inspirado pelo Dia das Crianças, celebrado em 12 de outubro, e pelos 18 anos do Dudu, este artigo busca trazer uma reflexão importante sobre como os pais podem oferecer um dos melhores presentes para seus filhos: a educação financeira. Mais do que brinquedos ou presentes materiais, ensinar as crianças a administrar seus recursos desde cedo é fundamental para que elas cresçam com valores sólidos e uma visão equilibrada sobre dinheiro.
Estudos comprovam que crianças que recebem educação financeira adequada têm maior probabilidade de se tornarem adultos financeiramente bem-sucedidos. Segundo uma pesquisa da University of Cambridge, os hábitos financeiros começam a se formar a partir dos 7 anos de idade. Além disso, um estudo da Junior Achievement USA revelou que 86% dos jovens que recebem educação financeira básica conseguem evitar dívidas desnecessárias na vida adulta.
Outro dado significativo vem da Visa Global Financial Literacy, que mostra que jovens que passaram por programas de educação financeira têm 75% mais chances de alcançar objetivos de longo prazo, como a compra de imóveis ou aposentadoria, em comparação com aqueles que não receberam esse tipo de ensino.
Esses dados reforçam que ensinar finanças desde cedo impacta diretamente na estabilidade financeira futura. Adultos que foram expostos à educação financeira na infância demonstram maior habilidade em poupar, gerenciar dívidas e planejar suas finanças. Por exemplo, uma pesquisa da FINRA revelou que pessoas que aprenderam a gerenciar dinheiro desde a infância têm uma taxa de inadimplência de 14%, em comparação com 34% daqueles que não receberam essa formação.
Esses números deixam claro que educar financeiramente os filhos desde cedo aumenta suas chances de sucesso na vida adulta, proporcionando uma vida mais equilibrada e segura financeiramente.
Nos primeiros anos de vida, as crianças são como esponjas que absorvem tudo ao seu redor. Elas estão constantemente observando as atitudes dos pais e familiares. Por isso, nesta fase, a educação financeira está diretamente relacionada ao exemplo dado pelos responsáveis.
Evitar compras desnecessárias e mostrar hábitos de consumo conscientes é fundamental. Ao invés de ceder a impulsos consumistas ou práticas de “compra fácil”, os pais podem ensinar seus filhos a valorizar conquistas, como presentes em ocasiões especiais, viagens de férias e comemorações de vitórias no esporte ou na escola. Demonstrar que conquistas materiais vêm acompanhadas de esforço e paciência é uma lição poderosa que as crianças levam para a vida toda.
A partir dos 7 anos, já é possível introduzir conceitos financeiros mais práticos. Um ótimo ponto de partida é a ideia de “poupança”, ainda que de maneira leve e lúdica. Nesta fase, é interessante oferecer à criança três cofrinhos, cada um com uma função diferente.
Quando a criança ultrapassa os 14 anos e entra na adolescência, o conceito de mesada pode ser introduzido. Este é o momento ideal para ensiná-la sobre orçamento e gestão de despesas. Oferecer uma quantia mensal e orientá-la a dividir esse valor em diferentes categorias, como estudos, lazer, consumo e caridade, permite que o jovem comece a aprender sobre alocação de recursos e planejamento financeiro.
Prestar contas para os pais é essencial. Ao final de cada mês mostrar o quanto gastou em cada categoria, o que sobrou, o que faltou e assim fazer os ajustes necessários.
Nesta fase, é importante que o adolescente tenha autonomia crescente sobre suas finanças. Aos poucos, ano a ano, deve ser incentivada a gerir seus próprios gastos e até mesmo participar do pagamento de algumas de suas despesas, como atividades extracurriculares ou materiais escolares incluindo esses valores no seu orçamento. A meta final é que, ao atingir a maioridade, o jovem seja capaz de administrar 100% de seus custos e suas finanças de forma responsável, desde a realização de seu orçamento pessoal, cobrindo suas necessidades e planejando seu futuro.
Esta atitude também alivia muito a rotina financeira dos pais, que passam aos poucos, a “terceirizar” os pagamentos dos custos de seus filhos para eles mesmos, e assim são aliviados desta tarefa que custa tempo e exige organização. Lembre-se, não há nada que trabalhe melhor a auto confiança do que a responsabilidade!
A reta final da educação financeira esta na área de investimentos, pois também cabe aos pais mostrar as oportunidades existentes para fazer “dinheiro gerar dinheiro”. Neste caso, bons fundos multimercado, que tenham um portfolio equilibrado entre renda fixa, variável, moedas, commodities, podem ser excelentes opções, uma vez que o jovem consegue acompanhar vários mercados e aprender com eles, tendo sempre um gestor profissional como apoio.
A educação financeira é, sem dúvida, um dos melhores presentes que os pais podem oferecer aos seus filhos. Ela vai muito além de ensinar a poupar dinheiro ou evitar dívidas. Trata-se de transmitir valores essenciais, como responsabilidade, paciência, empatia, sendo de coletividade, generosidade e a capacidade de planejar para o futuro. Oferta autonomia e fortalece a confiança em sí próprio.
Vale lembrar que esse aprendizado não ocorre de maneira isolada. Ele está intimamente ligado ao exemplo dado pelos pais no dia a dia – na forma como administram suas finanças, na maneira como encaram o consumo e, sobretudo, no valor que atribuem ao investimento em si mesmos, nos outros e no futuro. Ao educar financeiramente seus filhos desde cedo, os pais estão preparando-os para serem adultos conscientes, auto confiantes, responsáveis e capazes de construir uma vida financeira saudável e próspera.
Publicado por
Fernanda Lancellotti
Partner & Head of Investor Relations at Santa Fé Investimentos