Nos meses que antecederam a primeira “onda” global do COVID-19, o minério ferro era cotado em uma estreita faixa de preços com valores entre U$ 80-100 por tonelada. A partir de maio de 2020, os preços spot dispararam e, em 12 de maio de 2021, o preço spot nos portos chineses, referência para a commodity, superou a impressionante marca de U$ 230 por tonelada, o que representa mais de duas vezes e meia o valor na mesma data do ano anterior. Porém, como já dizia aquele velho ditado “tudo que sobe, desce” e no caso do minério de ferro não foi diferente.
A partir da última semana de julho começamos a ver um acentuado movimento de baixa que fez com que o preço da commodity caísse mais de 36% em um mês, levando o preço de U$220 por tonelada para U$140 por tonelada. No gráfico abaixo podemos ver esse comportamento de preço.
Para explicarmos essa queda abrupta de preços, precisamos entender os motivos responsáveis pela sua rápida ascensão. As dificuldades iniciais trazidas pela pandemia do COVID-19 fizeram com que a produção global e o embarque de minério de ferro para a China (maior consumidor da matéria prima do mundo) fossem reduzidos, diminuindo drasticamente a oferta do produto. Com a retomada das economias e dos investimentos em infraestrutura na China, a demanda por aço aumentou rapidamente e ocasionou a alta dos preços.
A partir de junho de 2020, houve um aumento substancial da produção de aço na China (responsável por 56% da produção mundial de aço em 2020) para atender a demanda reprimida pelo material de construção no país. Além disso, houve um movimento muito forte de recomposição dos estoques que não puderam ser repostos nos períodos mais intensos no início da pandemia. Com isso, a poluição e gases de efeito estufa emitidos pelas siderúrgicas chinesas aumentaram na mesma razão que a produção e fez com que o governo chinês tomasse medidas que restringem a produção de aço em 2021.
O governo chinês tem como objetivo fazer com que a produção total de aço em 2021 não ultrapasse os níveis observados em 2020, porém a produção no primeiro semestre de 2021 foi 12% maior do que no mesmo período do passado. Para que esse objetivo seja alcançado, as siderúrgicas chinesas devem acatar as políticas impostas pelo governo e “pisar no freio” no segundo semestre, reduzindo a produção em duplos dígitos. Os efeitos dessas políticas já podem ser visualizados no gráfico abaixo, que retrata a produção chinesa diária de aço bruto.
O contexto atual da Oferta Vs. Demanda é diferente do que vivemos no segundo semestre do ano passado, onde notava-se um cenário de demanda por aço reprimida, estoques desabastecidos e oferta de minério de ferro restrita devido às dificuldades produtivas e logísticas ocasionadas pela pandemia do COVID-19. Atualmente, a produção e os embarques de minério de ferro foram normalizados e os estoques estão próximos dos níveis pré-pandêmicos. Desse modo, a expectativa de demanda futura pela matéria prima principal do aço é colocada em risco. O gráfico abaixo demonstra que o nível dos estoques de minério de ferro nos portos chineses, em meses de importação, já está acima da média histórica de 1,3 tonelada/mês e acima do mesmo período no ano passado.
Tamanha redução na produção de aço, fez com que a demanda pela sua principal matéria prima, o minério de ferro, arrefecesse e os preços caíram mais de 36% em apenas um mês, devolvendo todos os ganhos do ano. Além do objetivo de se tornar “Net Zero” (neutralização das emissões de carbono) até 2060, a China sediará os Jogos Olímpicos de Inverno de 2022. Por esse motivo, o combate à poluição vem sendo acentuado no país, que enfrenta cenários preocupantes de má qualidade do ar e céus cobertos por nuvens cinzas. Atualmente, a indústria siderúrgica chinesa é responsável por 10 a 20% do total de emissões de CO2 no país e faz com que o setor seja um dos principais alvos do governo.
Tendo em vista tudo o que foi dito acima, o que devemos esperar para o futuro de curto prazo dos preços do minério de ferro? Os fatores principais que devem determinar estas cotações são: a retomada da demanda por aço na China e o rigor do governo chinês em relação aos cortes de produção de aço implantados. Vamos ficar de olho!
Publicado por Pedro Massi de Brito
Investment Analyst na Santa Fé Investimentos