O grupo de controle da Petrobras, composto pelo Governo Federal, BNDES e BNDESPar, detém 36,61% de ações da companhia, dando-lhe o direito de comandar a empresa, fazendo com a mesma seja uma instituição de economia mista. Por isso, as principais mudanças de estratégia e atuação neste tipo de companhia acontecem em períodos subsequentes aos anos eleitorais em que houve alternância de poder, entre governos com ideais e orientações político-econômicas diferentes.
O ano de 2022 da Petrobras foi marcado pelo alto valor pago aos acionistas, entre dividendos e juros sobre capital próprio (JCP), de aproximadamente R$ 173 bilhões até o mês de setembro do mesmo ano (último resultado trimestral divulgado pela companhia). Os principais fatores que levaram a empresa a distribuir tamanho valor foram a redução do endividamento bruto para US$ 60 bilhões em 2021, venda de ativos (aumentando a geração de caixa da companhia) e boa performance das atividades de exploração e produção de petróleo e gás natural, suportada pelos altos preços dessas commodities em 2022.
A partir de 2015, impeachment da ex-presidente Dilma Roussef, a Petrobras, comandada nos anos de mandato dos ex-presidentes Michel Temer e Jair Bolsonaro, teve como foco atuar na exploração e produção de óleo e gás em águas profundas, recuperar e manter o nível adequado de alavancagem e reduzir suas emissões de carbono. Para isso, a empresa instituiu um programa de desinvestimento de seus ativos não core nos setores de refino, distribuição de combustível e gás natural e produção onshore e offshore em campos maduros, com menor eficiência.
Entre 2015, início do programa de desinvestimentos, e julho de 2022, foram negociados 67 ativos da estatal, somando R$ 280,4 bilhões. A receita proveniente da venda de uma parcela dos ativos inclusos no programa desinvestimento, somada aos fortes resultados da operação da cia, foi utilizada para reduzir a dívida bruta e alavancagem da empresa, contratadas durante as gestões passadas, comandadas por líderes filiados ao Partido dos Trabalhadores (PT). Tamanha dívida e instabilidade financeira foi alcançada devido ao investimento irresponsável e envolvimentos em casos de corrupção entre a companhia, empreiteiras e o governo federal.
Já sinalizado pelo do ex-presidente, e agora presidente eleito, Luiz Inacio Lula da Silva, a Petrobras deixará de vender seus ativos em setores não core, direcionando investimento aos mesmos e a projetos em outros ramos de atuação (energia limpa e refino de combustíveis), diversificando o portfólio da companhia. Os fatores acima, somados a mudança da política de dividendos (payout de 25% do lucro líquido ajustado) e a performance mais fraca da empresa esperada para 2023, devem fazer com que haja uma redução drástica na remuneração dos seus acionistas. Espera-se que a empresa pague de 8 a 10% de dividend yield, provenientes da operação de 2023, contra os mais de 50% esperados a serem pagos em relação as de 2022.
Conclui-se que com as relevantes mudanças estratégicas na companhia, os investidores que buscavam exposição ao setor de óleo e gás no país têm como alternativa o investimento nas Produtoras Juniors, como Petrorio, Petroreconcavo e 3R Petroleum. As empresas Juniors focam no crescimento e desenvolvimento dos seus portfólios de campos maduros, recém adquiridos no programa de desinvestimento da Petrobras e de outras empresas consolidadas no setor, também conhecidas como majors. Já os investidores que desejam puramente receber dividendos no Brasil, devem buscar empresas com políticas e estratégias que priorizem essa remuneração de seus acionistas em outros setores da economia.
Publicado
por
Pedro Massi de Brito
Partner & Investment
Analyst at Santa Fé Investimentos