O 2025 DO AGRO BRASILEIRO

No mês de novembro, o Centro-Sul brasileiro já se encontra trabalhando intensamente na preparação e plantio da safra 2026, com os dados de 2025 já sendo compilados e as expectativas para o próximo ciclo sendo traçadas. Desta forma, este é um momento ideal para refletirmos sobre o ano de 2025, identificando as conquistas e os desafios enfrentados pelo agronegócio brasileiro neste ano, além de alinhar as expectativas para o próximo ciclo. Para isso, é importante conhecer o calendário agrícola das principais culturas, identificando os pontos chave de atenção para cada uma delas, e assim, compreender a influência desses fatores nas atividades e produtividades do campo.

Os meses de outubro, novembro e dezembro estão entre os mais importantes para o Agro brasileiro: O início da primavera traz consigo a estação chuvosa na região Centro-sul do Brasil. Neste período, as condições climáticas mais favoráveis, como chuva mais abundante e dias mais longos, proporcionam às plantas as melhores condições de crescimento. Para cultivares de ciclo curto, como arroz, feijão, soja, milho, algodão e amendoim, que levam do plantio à colheita de 100 a 170 dias, dependendo da variedade, isso representa uma corrida contra o tempo para que os produtores realizem nesses meses a maior parte do plantio da safra mais relevante do ano agrícola, a chamada “safra das águas” ou “primeira” safra, que por se beneficiar das melhores condições, normalmente é mais produtiva.

Em algumas regiões do país, o clima ainda permite ainda a realização de uma segunda ou até terceira safra de cultivares de ciclo curto na mesma área no mesmo ano agrícola, o que chamamos de safrinha. Ela recebe esse nome por ocorrer em um período de clima menos favorável, tendendo a ser menos produtiva do que a primeira safra. Por outro lado, o emprego de técnicas de manejo sustentável como o plantio direto, uso de insumos biológicos e a rotação de culturas ajudam a promover o combate de pragas e a reciclagem de nutrientes nessas áreas, impulsionando os resultados dos produtores. No Brasil, o exemplo mais comum de Safra/Safrinha é o cultivo da soja na primeira safra e milho na safrinha.

Quando pensamos nas culturas perenes ou semiperenes, como café, cana-de-açúcar, silvicultura e citricultura, a estação chuvosa normalmente corresponde ao período de entressafra e a estação seca ao período de colheita. As chuvas mais frequentes e dias mais longos da estação chuvosa potencializam o crescimento vegetativo das plantas, além de promover o acúmulo de água e nutrientes nas camadas mais profundas do solo, que serão essenciais para essas culturas durante os meses mais secos do ano.

É importante observar que nas regiões Norte e Nordeste as estações Seca e Chuvosa são invertidas com a região Centro-Sul, sendo o exemplo mais notável a Cana-de-açúcar, cuja safra se estende de abril a novembro no Centro-Sul e de novembro a abril no Norte e Nordeste. Os cultivares de ciclo curto também podem apresentar períodos de safra distintos em alguns estados dessas regiões, mas, para os fins deste texto, focaremos no calendário da região Centro-Sul por representar o maior volume da produção nacional. Agora que já entendemos o calendário agrícola das principais culturas cultivadas no país, assim como identificamos seus períodos mais críticos, podemos melhor compreender os resultados do Agro no ciclo 2025.

Os últimos meses de 2024 foram marcados por precipitações consideradas acima da média histórica em algumas regiões, cenário que se estendeu por toda a estação chuvosa adentrando os primeiros meses de 2025. Esse volume de chuvas acima da média foi especialmente positivo para as culturas de ciclo curto, permitindo que produtores acelerassem o plantio da “primeira” Safra de 2025, uma corrida contra o tempo para aproveitar o clima propício. A safrinha, por sua vez, pode ser semeada dentro da janela técnica recomendada, conseguindo também se aproveitando de condições climáticas favoráveis. Esse cenário contribuiu para uma produção recorde de grãos em 2025, superando as 350 milhões de toneladas, impulsionada principalmente pela produção de soja e milho. Esse resultado, divulgado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), representa um crescimento de 16,3% em relação ao ciclo anterior.

Segundo os dados do Conab, a área destinada ao cultivo de grãos em 2025, estimada em 81,7 milhões de hectares = MM ha, é 2,3% ou 1,9 MM ha superior à semeada em 2023/24, com destaque para a soja, com crescimento de 2,7% ou 1,3 MM ha, e para o milho, com ganho de 3,8%, correspondendo a 799,5 mil hectares. Também houve aumento de área destinada para Arroz, Sorgo e algodão. No quesito produção, a soja teve resultado recorde de 171,5 milhões de toneladas = MM ton, 13,3% ou 20,2 MM ton superior ao ciclo anterior, enquanto a produção do milho atingiu a marca de 139,7 MM ton, crescimento de 20,9% (24,4 MM tom) no mesmo comparativo. O Arroz encerrou a safra com produção de 12,8 milhões de toneladas, uma alta de 20,6 %, enquanto o algodão teve alta de 9,7%, atingindo 4,1 MM ton de pluma. Esses fortes resultados são explicados majoritariamente pelo aumento da área cultivada e clima favorável nas principais regiões produtoras.

Por outro lado, as lavouras de culturas perenes foram bastante afetadas pela estação seca de 2024, que foi extremamente severa e apresentou eventos climáticos extremos como geadas e ondas de calor. Algumas regiões chegaram a ficar mais de 180 dias sem chuvas, e os incêndios tornaram-se frequentes e difíceis de controlar. A safra de laranja em 2024, por exemplo, foi considerada uma das piores dos últimos 30 anos. Já o café, viu seu preço explodir no início de 2025 devido, entre outros fatores, à quebra de safra e pessimismo com a condição das lavouras, mesmo em um ano de bianualidade positiva. A safra de cana-de-açúcar 2024/25, por sua vez, foi a segunda maior da história, com uma produção estimada em 676,96 milhões de toneladas, apesar de ter registrado queda de 5,1% em relação ao ciclo anterior. No entanto, efeitos nocivos do clima adverso de 2024 como seca, geadas e incêndios afetaram a rebrota das plantas, o que causou danos que se estenderam para a safra 2025 em muitas regiões.

Apesar das dificuldades, o cenário climático mais favorável da estação chuvosa de 2024/25 contribuiu para uma recuperação das lavouras perenes. A estimativa para a safra 2025 de laranja supera as 300 milhões de caixas, alta superior a 35% em relação à safra anterior, e demonstrando a retomada da capacidade produtiva dos pomares. Para o café, mesmo em ano de bianualidade negativa, houve um crescimento de cerca de 1,8% em comparação com o resultado obtido em 2024, influenciado pela recuperação de 3% na produtividade das lavouras na média nacional. Em Minas Gerais, estado que concentra ¾ da área total de café Arábica, a produção caiu cerca de 10,8%, explicado pela bianualidade negativa e efeitos nocivos do clima em 2024. Por outro lado, a produção do café Robusta aumentou 37,2% no comparativo com o ano anterior, resultado atribuído a uma melhor regularidade climática nos períodos críticos de formação do grão desta variedade, em especial no estado do Espírito Santo, que representa quase 70% da produção deste cultivar no país.

Na indústria sucroenergética, apesar do aumento de 2,4% na área de colheita, a moagem total de cana-de-açúcar na safra 2025 deve cair cerca de 1,6% em relação ao ciclo anterior, uma queda de produtividade média de 3,8% a nível nacional, diminuição esta decorrente majoritariamente dos efeitos climáticos de 2024. Não obstante, as condições adversas afetaram a fisiologia das plantas, diminuindo a formação de biomassa e afetando o acúmulo de sacarose, reduzindo o ATR (Açúcar Total Recuperável). Além da influência do clima, o setor enfrenta também pressão sobre os preços. A cotação do açúcar na bolsa de Nova Iorque encontra-se próxima às mínima dos últimos 5 anos, pressionada por uma diminuição na demanda e perspectivas positivas para as safras nos outros países produtores como Índia e Tailândia, precificando commodity abaixo do custo de produção de muitas usinas brasileira. O cenário de preços menos atrativos e custos em alta têm comprimido as margens e aumentando o endividamento das empresas do setor, levando algumas usinas menos eficientes a fecharem suas portas no ano de 2025, como ocorreu com algumas unidades do grupo Raízen.

Outro fator que tem balançado o setor sucroenergético é o crescimento do etanol de milho. Segundo a União Nacional do Etanol de Milho (Unem), que reúne os fabricantes, em 2025, ano em que o Programa Nacional do Álcool (Proálcool) completou 50 anos, o milho deve originar 10 bilhões de litros de etanol no Brasil, mais de um quarto do total nacional. Impulsionado pela supersafra de milho neste ano, que tem garantido matéria prima abundante e barata, e condições de preço mais atrativas para o combustível, o setor tem acelerado o ritmo de investimentos, com novos projetos entrando ou planejadas para entrar em operação, especialmente Usinas Flex, que combinam produção de etanol de milho e cana-de-açúcar.  Outro fator que tem contribuído para o sucesso do etanol de milho no país é o fortalecimento do mercado para seus subprodutos, como o DDGs (grãos secos de destilaria), usado na alimentação animal, e o óleo de milho, usado para a produção de biodiesel.

Para além do campo, o ano de 2025 também marcou o Agro Brasileiro pelo reconhecimento da pesquisadora da Embrapa Mariângela Hungria, laureada com o Prêmio Mundial de Alimentação – World Food Prize (WFP) -, reconhecido como o “Nobel” da agricultura, por sua relevante contribuição ao desenvolvimento de insumos biológicos para a agricultura. A pesquisa de Mariângela aborda a substituição total ou parcial de fertilizantes químicos por microrganismos portadores de propriedades como fixação biológica de nitrogênio (FBN), síntese de fitormônios e solubilização de fosfatos e rochas potássicas. Ela estima que essa tecnologia seja atualmente empregada em cerca de 85% das lavouras de soja brasileiros, e que tenha evitado, somente em 2024, emissão de mais de 230 milhões de toneladas de CO₂ equivalentes para a atmosfera e gerado uma economia mais de 25 bilhões de dólares em fertilizantes químicos nitrogenados (Ureia). Atualmente, a pesquisadora está trabalhando em um projeto de recuperação biológica de pastagens degradadas, projeto que poderia aumentar a capacidade de criação de gado no Brasil sem a necessidade de desmatar ou redirecionar áreas de lavoura, aumentando ainda mais a sustentabilidade do Agronegócio Brasileiro!

De maneira geral, o ano de 2025 foi marcado por uma combinação de desafios e avanços para o agronegócio brasileiro, refletindo a complexidade do setor diante de fatores internos e externos. A safra recorde de grãos contribuiu para o fortalecimento dos mercados de exportação, especialmente para commodities como soja e milho, impulsionando a balança comercial brasileira e consolidando a posição do Brasil como um dos principais fornecedores globais de commodities agrícolas. Além disso, no aspecto tecnológico, 2025 foi um ano de avanços com a incorporação de inteligência artificial e automação em diversas etapas do processo produtivo, como a intensificação do uso de drones para aplicação de insumos e monitoramento de lavouras e a implementação de sistemas de agricultura de precisão, aumentando a eficiência e reduzindo custos. No lado da biotecnologia, avanços no desenvolvimento de novas variedades, mais resistentes a pragas e alterações climáticas, e a popularização do uso de insumos biológicos no combate a pragas e aumento da fertilidade do solo, similares aos da pesquisa de Mariângela, ajudaram a mitigar alguns dos efeitos dos eventos climáticos extremos que marcaram o ano e contribuíram para o avanço do Agro de maneira mais sustentável.

Agora, os esforços dos produtores se voltam para as safras de 2026. Dados do Conab mostram que 78% da próxima safra de grãos já foi semeada, e os produtores agora voltam seus olhares para a meteorologia. Desde setembro, cientistas alertam para o retorno do fenômeno La Niña, que pode durar até fevereiro e impactar a estação chuvosa no centro sul do Brasil. Mesmo assim, expectativa da estatal é de que a produção graneleira tenha um leve aumento em 2026, de cerca de 1%, próxima das 360 milhões de toneladas. Além disso, após os eventos climáticos extremos de 2024, os produtores têm intensificado investimentos em irrigação, especialmente paras as culturas perenes como café e cana-de-açúcar, aumentando a resiliência das lavouras frente às adversidades, com expectativa de recuperação das produtividades agrícolas para os próximos ciclos. Em meio às incertezas, uma coisa é certa: o Agro não pode parar, e se depender da resiliência dos produtores brasileiros, 2026 será mais um ano de grande destaque para o agronegócio.

Figura 1: períodos de safra e safrinha para os principais cultivares
retirado de: https://noticias.broto.com.br/gestao/periodo-de-safra/

Publicado por
Pedro Luis Figueiredo
Partner & Investment Analyst at Santa Fé Investimentos


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Equipe Santa Fé