O DESPLANEJAMENTO FINANCEIRO
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No cenário brasileiro, a cultura do endividamento se torna uma companhia constante na vida de muitos. A ideia do parcelamento, que está profundamente enraizada na nossa cultura, parece ser uma solução fácil, mas, na verdade, pode levar a sérios problemas financeiros ao longo da vida.
O brasileiro, frequentemente, se vê buscando financiamento não apenas para bens de maior valor, mas também para despesas recorrentes, como contas de luz e boletos escolares, perpetuando assim um ciclo de endividamento.
Os caminhos para o crescimento financeiro
Ao refletir sobre diferentes maneiras de lidar com o crescimento financeiro, percebemos que há duas abordagens predominantes: a cultura do crédito, que podemos observar na prática norte-americana, e a cultura da contenção e do investimento, que é mais comum na Europa.
A cultura do crédito
Na cultura americana, o consumo é incentivado através do uso de crédito, onde o “ter” é valorizado e financiado. Isso pode ser eficaz se bem controlado, resultando em crescimento real e formação de patrimônio. No entanto, é essencial ter em mente que essa estratégia carrega riscos significativos.
A cultura do investimento
Por outro lado, a cultura europeia, forjada em grande parte pela história de guerras e desafios econômicos, tende a ser mais conservadora. Os europeus aprenderam a viver com o essencial e a valorizar o que possuem, priorizando a poupança e o investimento. Essa abordagem se traduz em adquirir ativos que, no longo prazo, geram renda passiva, proporcionando liberdade financeira e a possibilidade de fazer compras com mais serenidade.
O impacto da Taxa Selic no cenário econômico brasileiro
As decisões financeiras atuais no Brasil são ainda mais preocupantes com uma taxa Selic projetada para 15% em 2025. A taxa Selic é a taxa básica de juros da economia, que influencia todas as outras taxas de juros, como empréstimos e investimentos. Em um ambiente de juros altos, surge a pergunta: é mais vantajoso tomar um empréstimo ou investir?
Investindo em fundos de Renda Fixa
Investir em fundos de renda fixa que oferecem rentabilidade atrelada ao CDI (Certificado de Depósito Interbancário) ou ao IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) pode se tornar uma melhor estratégia. O CDI é uma taxa que reflete os juros que os bancos cobram entre si, enquanto o IPCA é o indicador oficial da inflação no Brasil.
Assim, um investimento que paga CDI + ou IPCA + pode oferecer retornos que, em um cenário de alta de juros, superem a taxa de financiamento de um carro novo, que pode chegar a bagatela de 15% ao ano.
O que podemos aprender com isso?
Isso leva a uma reflexão essencial: financiar um carro novo, possivelmente desnecessário, a uma taxa de 15% implica uma grande responsabilidade financeira e deve ser bem ponderado, especialmente quando podemos direcionar esse capital para investimentos que possam gerar retorno das mesmas proporções.
Não há uma resposta definitiva sobre qual abordagem é a “certa”; ambas têm seus casos de sucesso e suas armadilhas. É fundamental que os indivíduos compreendam os lados positivos e os riscos envolvidos, especialmente no que diz respeito ao endividamento.
Exemplos de cultura de crédito e investimento
Para ilustrar a cultura do investimento, podemos recorrer ao clássico Pai Rico, Pai Pobre de Robert Kiyosaki, onde se explora a lógica da geração de renda passiva e a importância de investir em ativos. Por outro lado, um exemplo que aborda a cultura do crédito é O Homem Mais Rico da Babilônia de George S. Clason, que, embora ensine sobre a importância da riqueza, também evidencia os riscos de um consumismo desenfreado.
É hora de reavaliar nossas metas financeiras
Como estamos no início do ano, é um momento propício para re-energizar nossos sonhos e metas financeiras. Eu acredito que a cultura do crédito pode trazer satisfação imediata e prazer pelo consumo, além de combinar muito bem em uma sociedade “Instagramável” onde o ter é sinônimo de felicidade, mas é extremamente arriscada e, se não for muito bem controlada, pode levar uma família à falência. Situações inesperadas, como uma doença, um acidente ou uma demissão, podem rapidamente transformar essa sensação de prazer em um pesadelo financeiro sem fim.
Em contraste, a cultura do investimento pode não oferecer recompensas instantâneas grandiosas, exigindo a renúncia de prazeres momentâneos. Porém, ela proporciona segurança e a oportunidade de valorizar o que realmente importa: nossa saúde, família, amizades, tempo de qualidade, contato com a natureza, etc.
Quando finalmente alcançamos nossas realizações através de investimentos bem planejados, a satisfação é incomparável, pois é enraizada no trabalho árduo e na conquista consciente.
Portanto, ao refletir sobre nossas escolhas financeiras, é vital encontrar um equilíbrio entre consumir e investir, entre o desejo instantâneo e a segurança a longo prazo, entre valorizar o ter ou o ser. Com compreensão e planejamento, podemos construir um futuro financeiro mais saudável e sólido.
Feliz 2025!
Publicado por
Fernanda Lancellotti
Partner & Head of Investor Relations at Santa Fé Investimentos
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