O DILEMA PETROBRÁS
Não tem sido fácil a vida dos gestores na Faria Lima. A Petrobrás tem tirado o sono de muita gente, pois a performance da nossa estatal de petróleo foi simplesmente espetacular nos últimos meses, sem dúvida o grande destaque do Ibovespa, mas o que deveria ser motivo de comemoração na verdade tem provocado muita dor de cabeça por aqui.
Nunca é demais lembrar dos vários relatórios dando “sell” para Petrobrás após a saída do ex presidente Castelo Branco. Casas renomadas alegando interferência na empresa e revendo suas recomendações. Também nunca é demais relembrar que todos erraram e muitos tiveram que virar a mão após uma valorização de mais de 50% das ações da empresa. Mas como um gestor deveria enfrentar um cenário desse? Muitas casas de análise dando ”sell” outras tantas neutras, algumas até descontinuando a cobertura. Diante disso o que fazer, considerando que as ações da Petrobrás tem um peso de mais de 10% sobre a variação do Ibovespa, que por sua vez é o benchmark de muita gente?
Sem dúvida um grande dilema que fica ainda mais complicado, considerando a perspectiva de volta do PT, que praticamente quebrou a empresa com os escândalos de corrupção e agora vemos o candidato do partido, o ex-presidente Lula, dizendo que a Petrobrás não deve se desfazer de suas refinarias, que pelo contrário tem que construir novas (lembrando que foram as obras das refinarias que causaram os desvios) e ainda que a empresa não pode seguir a paridade internacional de preços.
Se de um lado temos essa sombra da volta do PT, e a constante contestação da política de preços internacionais, agravada com a alta da inflação em que o preço dos combustíveis tem sido o grande vilão, de outro o que vemos é uma gestão extremamente eficiente que transformou a Petrobrás numa máquina de pagar dividendos aos seus acionistas( ao divulgar o balanço do segundo semestre a empresa mudou sua política de dividendos e passou a distribuir bilhões de reais como remuneração aos acionistas fruto de uma gestão eficiente que reduziu o endividamento e recolocou a empresa no caminho da prosperidade) Como consequência as ações da empresa se valorizaram muito nos últimos meses, mas apesar de toda essa valorização, os múltiplos ainda são muito atraentes (inferiores inclusive aos da estatal russa).
Muitos gestores não tem Petrobrás nas suas carteiras, seja por questões de governança, ESG, riscos políticos e muitas outras razões, mas a verdade é que fica muito difícil bater o Ibovespa num cenário de massacre das empresas de segunda linha, devido aos resgates na indústria de fundos e diante de uma valorização expressiva e constante das ações Petrobrás nos últimos meses, sendo que sua participação no Ibovespa é maior que 10% ficando atrás apenas da Vale.
Na Santa Fé, nossa postura tem sido pragmática. Acreditamos na atual gestão da empresa, achamos os múltiplos ainda muito descontados e vemos um fluxo enorme de compra, principalmente de estrangeiros, nas ações da Petrobrás. Também vemos a empresa distribuindo alguns bilhões como remuneração aos acionistas. Diante disso tudo, seguimos comprados atentos aos desdobramentos da eleição pois infelizmente, se o PT voltar, acreditamos que muito do que foi duramente conquistado será novamente perdido, e a tese de investimento na empresa certamente deverá ser revista. Mas até lá muita água ainda vai passar debaixo dessa ponte…
Publicado por
Paulo Battistella Bueno
Partner & Portfolio Manager at Santa Fé Investimentos