Gostaríamos de trazer à tona uma pauta muito interessante mencionada na LIVE que realizamos no início do mês com a Necton.
Considerando as máximas do Dólar na sexta feira, dia 15/05, vale lembrar que apenas alguns dias antes, Sergio Bueno, um de nossos Gestores, mencionou uma correlação extremamente pertinente e que já abria uma janela de possibilidades, com as quais nos deparamos logo nas semanas seguintes.
A pergunta de Glauco Legat, analista chefe da Necton foi: “ Pensando no Dólar como uma variável indireta quando olhamos para investimentos em renda variável, como vocês analisam empresas exportadoras? Vocês gostam ou não gostam desses papéis? ”
Resposta de Sergio Bueno: “ Eu agradeço muito a pergunta, pois me dará a oportunidade de expor uma tese que está nascendo na Santa Fé. Temos discutido e conseguido construir algum posicionamento neste sentido: O que pode fazer, aqui no Brasil, com que o Real se valorize e o Dólar se desvalorize? ”
A Tese em discussão na Santa Fé Investimentos: Um dos fatores é a entrada de dinheiro através de arbitragem da taxa de juros, que é o que acontecia muito no passado. Ou seja, entrava uma enxurrada de dinheiro para mercado de títulos públicos, pois nossos juros eram dos maiores do mundo. Isso não existe mais, inclusive torna-se um dos fatores a impulsionar a valorização exacerbada do Dólar uma vez que os juros se encontram nas mínimas.
O segundo fator a provocar nossa atenção é a possível valorização das commodities no mercado internacional, com um novo ciclo de alta. Para um melhor entendimento, vale retornarmos ao início do primeiro governo Lula, quando tivemos um “boom” das commodities, um vento de cauda que fortaleceu muito nossa economia e seguiu forte durante esse período. Na época chegamos a ver o barril de petróleo a U$145,00 (sim, o mesmo barril que fechou negativo no final de Abril deste ano); Soja e milho muito fortes também. Foi nessa época que a China começou a comprar commodities, começou a crescer e expandir sua economia agregando milhões de seus cidadãos ao mercado de consumo.
Depois, entramos em um ciclo descendente, em que essas commodities vem caindo desde então, tendo agora com a crise do corona vírus um estresse enorme de baixa exacerbada.
Estímulos monetários dos governos (principalmente o americano) significam enorme liquidez nos mercados internacionais – muito dinheiro mesmo. Passados os efeitos da pandemia, o mundo voltará a crescer e quando isso acontecer, as commodities naturalmente entrarão em um novo ciclo de alta. Não sabemos se isso será agora, ainda em 2020 ou um pouco mais para frente, mas estamos certos de que teremos um novo ciclo de alta de commodities e quando isso acontecer, nós veremos o Dólar aqui no Brasil cair e o Real se fortalecer. Porque? Por uma simples conta aritmética:
O plantador de soja, por exemplo, faz conta em Reais, apesar de lidar com alguns insumos dolarizados. Mas o custo dele é em Reais. Se o Dólar está nas máximas, como está agora, esse produtor estará ganhando muito dinheiro, mesmo com os preços deprimidos da soja em Chicago. Há uma arbitragem forte aí o que faz com que ele venda a soja mais barato em dólares, até que o mercado reestabeleça o equilíbrio.
Quando essas commodities se valorizam, o que acontece com o produtor local?
Ele vai poder vender sua produção a um Dólar mais barato sacrificando parte de sua margem mas com preços muito competitivos no mercado internacional, com seus lucros, ainda assim, melhores do que eram antes. O produtor de commodities não coloca preço em sua mercadoria, ele opera com os preços que obtém no mercado internacional.
Em resumo: Estímulos financeiros dos governos colocam muito dinheiro no mercado – Muito dinheiro no mercado busca fazer crescer as economias como um todo e principalmente a demanda por commodities e ativos reais, inclusive ações de companhias, que são automaticamente valorizadas – ativos reais em alta, Dólar, no Brasil em baixa. Essa é a ideia.
Enquanto isso não acontecer e nós continuarmos enfrentando esse estresse político, o Dólar tende a continuar subindo. O Dólar só poderá cair aqui no Brasil se tivermos as commodities se valorizando no mercado internacional! Esta é nossa tese.
O mercado hoje pode estar sinalizando isso… Quem sabe?