A eleição presidencial de 2024 nos Estados Unidos trouxe Donald Trump de volta à Casa Branca, agora como o 47º presidente do país e com maioria republicana tanto na Câmara quanto no Senado. Em uma decisão histórica, os americanos optaram pelo retorno de um líder cuja gestão anterior gerou amplas repercussões econômicas e políticas. A escolha de Trump reflete uma polarização significativa dentro do eleitorado americano, que se mostrou insatisfeito com a situação econômica do país, e tem possíveis efeitos de longo alcance, não apenas para a economia doméstica dos Estados Unidos, mas também para os mercados globais e a geopolítica internacional. Esse novo mandato de Trump representa tanto uma retomada em suas políticas conservadoras como uma reafirmação de sua visão econômica nacionalista.
Entre os principais pontos de sua campanha estiveram a promessa de redução de impostos para empresas americanas e a imposição de tarifas de importação para produtos estrangeiros. Essas medidas buscam fortalecer a economia interna ao incentivar a produção local e proteger o mercado doméstico da competição externa. No entanto, ao mesmo tempo em que podem promover o crescimento de setores estratégicos americanos, essas políticas protecionistas tendem a pressionar os preços para cima, gerando uma perspectiva de maior inflação. Com a economia americana sob esse tipo de estresse, há uma expectativa de que o Federal Reserve (o equivalente ao Banco Central nos EUA) mantenha as taxas de juros elevadas por mais tempo, como forma de combater a pressão inflacionária gerada pelo aumento de preços e sustentar a estabilidade econômica. Os juros mais altos nos Estados Unidos, em contrapartida, tendem a atrair investimentos estrangeiros, já que os títulos da dívida americana, os Treasures, que são considerados ativos com risco nulo, passam a remunerar mais o investidor. Esse processo causa a valorização do dólar frente a outras moedas pois os investidores irão vender ativos em suas moedas locais e comprar dólares para investir nos Estados Unidos.
Para o Brasil, essa valorização do dólar deve trazer desafios e oportunidades: Os produtos brasileiros podem se tornar menos acessíveis nos EUA devido às novas tarifas de importação americanas, impactando as relações comerciais entre os dois países, assim como o Dólar mais forte deve encarecer o custo de alguns produtos no mercado brasileiro e causar pressão inflacionária por aqui também. Por outro lado, produtos brasileiros, já competitivos no mercado externo, devem se tornam mais atrativos para outros países e mais rentáveis para as empresas brasileiras. Outro ponto onde o Brasil pode se beneficiar é assumindo o lugar dos Estados Unidos na exportação de produtos, como por exemplo produtos agrícolas, em meio a uma eventual guerra comercial, especialmente com a China. Para os chineses, hoje é mais barato importar produtos como grãos e carne dos EUA, pela proximidade e possibilidade de frete via Oceano Pacífico. Em caso de tarifas pesadas para a entrada de produtos chineses nos EUA, a China deve retaliar elevando as tarifas para produtos americanos, abrindo espaço para os produtos brasileiros se tornarem mais competitivos apesar do frete mais caro.
A resposta inicial dos mercados à vitória de Trump foi mista. No dia seguinte à eleição, as bolsas americanas abriram em forte alta, refletindo a expectativa de políticas favoráveis aos negócios domésticos. Em contrapartida, o mercado brasileiro, representado pelo Ibovespa, sofreu uma queda inicial de quase 2%, refletindo incertezas quanto ao impacto das novas diretrizes americanas sobre a economia global e a relação comercial entre os dois países. Durante o pregão, contudo, os ativos brasileiros mostraram resiliência: o dólar, que havia começado o dia em alta, reverteu o movimento e fechou abaixo de R$ 5,70, enquanto o Ibovespa recuperava parte das perdas e se aproximava da estabilidade. Este comportamento sugere que o impacto da eleição americana foi, até certo ponto, absorvido pelos mercados, indicando uma antecipação das possíveis consequências.
Para o Governo brasileiro, o novo cenário cria desafios além da economia. O Protecionismo americano deve trazer pressão de alta estrutural no dólar, o que por sua vez vai criar uma pressão inflacionária também aqui no Brasil, além, claro, da possibilidade real de um novo ciclo de alta da taxa Selic para tentar conter a inflação. Esse cenário vai exigir do Governo Brasileiro maior disciplina fiscal, controle de gastos e diálogo com o mercado para tentar minimizar o efeito da alta no dólar, sob pena de perder o controle da inflação – que atualmente já ultrapassa o teto da meta no acumulado de 12 meses – o que pode levar o país à uma grande deterioração econômica e impactar desde a popularidade até a articulação com a própria base aliada do Governo, que tende a ser contrária às medidas de arrocho fiscal e alta de juros. A eleição de Trump também sinaliza um fortalecimento do conservadorismo, o que deve fortalecer a oposição no Brasil e acirras as disputas por poder e influência em Brasília. Em função disso, a recomendação de especialistas financeiros é que investidores com visão de longo prazo considerem alocar uma parcela de seus ativos em instrumentos que possam tirar proveito desse cenário. A paciência e a calma poderão proporcionar retornos robustos àqueles que se posicionarem estrategicamente, alinhando-se com os ciclos econômicos de longo prazo.
Em resumo, a eleição de Donald Trump representa um momento de grande transformação, tanto para os Estados Unidos quanto para o contexto econômico global. O impacto de suas políticas deve ser observado com cautela, enquanto o Brasil, diante desse cenário, precisará encontrar meios de mitigar os riscos associados a uma economia americana mais protecionista. Ao mesmo tempo, a vitória de Trump reforça o cenário político conservador, o que poderá ressoar em outras regiões, inclusive na América Latina, influenciando a trajetória econômica e política dos próximos anos.
Publicado por
Pedro Luis Figueiredo
Partner & Investment Analyst at Santa Fé Investimentos