PANORAMA DO VAREJO: DESTAQUES E DESAFIOS DO 3T24

A temporada de resultados do terceiro trimestre de 2024 para o setor de varejo está prevista para começar em 31/10, com a divulgação de resultados do Carrefour Brasil. Este artigo visa oferecer nossa visão geral do setor para essa temporada, abordando os diferentes segmentos — vestuário, varejo alimentar e e-commerce — e destacando as expectativas positivas e negativas para cada um.

No segmento de vestuário, incluímos toda a cadeia de produção e comercialização de roupas e acessórios, abrangendo desde marcas de moda até lojas como Renner, C&A e Azzas. Já o varejo alimentar abrange empresas que vendem produtos alimentícios diretamente ao consumidor, incluindo redes de supermercados, hipermercados e atacarejos, como Carrefour, Assaí e Grupo Mateus. No e-commerce, consideramos as companhias que vendem produtos e serviços por meio de plataformas digitais, como Mercado Livre, Magazine Luiza e Casas Bahia.

Os dados econômicos positivos ao final de 2023, como o aumento na oferta de crédito, a redução na expectativa de inadimplência e na relação dívida/renda das famílias, sinalizaram uma recuperação gradual nos primeiros trimestres de 2024. Acreditamos que o 3T24 seguirá essa tendência, com aceleração de receita e, sobretudo, expansão das margens, devido à combinação de precificação mais racional dos competidores, otimização de custos e alavancagem operacional. Apesar do crescimento de receita e margens saudáveis para a maioria das empresas, esperamos variações entre os segmentos. Destacamos o setor de vestuário, que deverá apresentar boa lucratividade e recuperação da linha de serviços financeiros. Em contrapartida, o varejo alimentar deve ter um desempenho mais fraco, com crescimento lento de receita.

Nos últimos meses, a aversão ao risco entre investidores no setor de varejo aumentou, devido à alta de juros, maior expectativa de inflação e incertezas fiscais, fatores que devem impactar os resultados de algumas empresas nos próximos trimestres. Mesmo com múltiplos comprimidos e indicadores operacionais melhores do que em 2023, é essencial selecionar empresas com risco limitado, bom momentum de lucro e baixa alavancagem financeira, uma vez que, em um cenário de juros elevados, companhias com alta alavancagem tendem a ver seu lucro por ação reduzido.

O segmento de vestuário deve se destacar positivamente no trimestre, impulsionado pela disponibilidade de crédito e pela menor competição decorrente da implementação, em agosto, de tarifas de importação mais altas para produtos de baixo valor, o que reduziu as importações em 50% no mês, conforme dados do Banco Central. Com isso, as empresas focadas em consumidores de baixa e média renda tendem a ser mais beneficiadas. Esperamos que a Lojas Renner apresente bons resultados, com crescimento nas vendas nas mesmas lojas e aumento de eficiência com seu novo centro de distribuição. A C&A também deve registrar crescimento de receita e margem, com a linha de serviços financeiros contribuindo tanto para o aumento de vendas quanto para o EBITDA, assim como a Renner. Para a Vivara, projetamos aceleração nas vendas e expansão da margem EBITDA, devido a uma gestão otimizada de estoques e racionalização de SG&A.

No e-commerce, apesar de ajustes nos últimos trimestres, ainda observamos crescimento moderado do GMV, maior consolidação de mercado e foco em rentabilidade e geração de caixa, com menor ênfase em categorias de produtos menos lucrativas. Esperamos que o Mercado Livre amplie sua rentabilidade e receita, embora com alguma desaceleração devido à base de comparação elevada. Em contraste, para Magazine Luiza e Casas Bahia, apesar de uma expectativa de crescimento sequencial de receita, acreditamos que Casas Bahia apresentará variação negativa, enquanto Magazine Luiza deve registrar baixo crescimento, ficando aquém de seu principal concorrente.

Por fim, esperamos um trimestre difícil para o varejo alimentar, com margens pressionadas, competição acirrada e uma inflação de alimentos negativa no período, o que traz volatilidade ao setor — normalmente, quanto maior a inflação de alimentos, melhor para as empresas de varejo alimentar, especialmente para as que atuam com atacarejo. A exceção será o Grupo Mateus, que deverá se destacar positivamente graças à sua posição geográfica, baixa alavancagem financeira e crescimento de margem e vendas nas mesmas lojas. Já os concorrentes Assaí e Carrefour provavelmente apresentarão crescimento moderado em vendas nas mesmas lojas e margens estáveis.

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Rodrigo Pontes de Miranda Lopes de Farias

Partner & Investment Analyst at Santa Fé Investimentos