QUAL É O VERDADEIRO VALOR DO DINHEIRO?

Nos últimos anos, diversos eventos geopolíticos balançaram a economia global, fazendo com que termos técnicos do “economês” como câmbio, juros, dólar, inflação e outros passassem a ser cada vez mais comuns nos noticiários e, consequentemente, no dia a dia das pessoas. 

Para quem vive na economia real e vem sentindo na pele os efeitos das oscilações econômicas globais, os termos citados nos noticiários, muitas vezes fora de contexto, causam mais dúvida do que esclarecimento, e nos leva a questionar qual o real valor do dinheiro e como ele é afetado por todos esses fatores. 

Esta está longe de ser uma pergunta trivial, e para começar a respondê-la precisamos nos aprofundar um pouco mais no “economês” e recapitular a história do dinheiro moderno como o conhecemos e utilizamos.

A história do dinheiro

Em outubro de 1972 foi descoberta uma necrópole contendo peças cerâmicas e complexos artefatos metalúrgicos em ouro e cobre. As sepulturas foram datadas por carbono durante os anos 2000, indicando terem sido construídas entre os anos 4600 até 4200 antes de Cristo, tornando os artefatos de ouro da necrópole de Varna amplamente reconhecidos como os mais antigos que se tem registro. A descoberta demonstra que o ouro vem sendo utilizado como um metal precioso e forma de reserva de valor há pelo menos 6500 anos!

Alguns milênios mais tarde, por volta de 600 a.C., no Reino da Lídia (atualmente região da Anatólia), ouro, prata e outros metais começaram a ser cunhados em moedas padronizadas, segundo relata o historiador grego Heródoto, dando início ao conceito de dinheiro.

Cédulas de papel, similares às que existem atualmente, começaram a ganhar popularidade ao longo dos séculos XVIII e XIX, com o amadurecimento do sistema bancário. As notas são mais práticas de carregar e apresentam vantagens sobre as moedas, mas seu valor à época ainda era lastreado em metais preciosos. O dólar americano e a libra esterlina são alguns exemplos de moedas que adotaram essa paridade, contudo esse sistema foi sendo descontinuado ao longo do século XX, sendo totalmente encerrado em 1971 com o fim do Acordo de Bretton Woods.

O dinheiro fiduciário

O dinheiro moderno é o que os economistas chamam de moeda fiduciária, ou seja, ele não é lastreado em nenhum metal precioso ou tem qualquer valor intrínseco. Seu valor é baseado na confiança: a confiança de que o governo que emitiu aquele dinheiro irá honrar seus compromissos, confiança nas instituições financeiras e na economia onde esse dinheiro circula.

Os países têm autonomia para emitir suas próprias moedas, e é baseado na solidez do país emissor que o dinheiro será lastreado. Dessa forma, países com economias fortes e estáveis tendem a ter uma moeda forte e valorizada.

Com o fim do Acordo de Bretton Woods, o dólar americano, que já havia se tornado a moeda padrão para transações internacionais, na prática, tornou-se uma das principais formas de lastro das economias modernas. Assim, outras moedas são comparadas a ele, o que no “economês” chamamos de Taxa de Câmbio.

O papel da política monetária

Os governos e bancos centrais dispõem de ferramentas que podem influenciar suas moedas para alcançar objetivos macroeconômicos como estabilidade de preços, pleno emprego e crescimento econômico sustentável. Esse conjunto de ferramentas é chamado de Política Monetária.

Entre as ferramentas de política monetária, uma das mais relevantes é a taxa básica de juros de um país. No Brasil, chamamos essa taxa de Selic, definida pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central brasileiro, o COPOM.

A taxa Selic representa o prêmio de risco do Brasil. Quanto maior o risco de investir no país e menor a confiança dos investidores na capacidade do governo de honrar suas dívidas, maior deverá ser a taxa de juros para atrair investidores.

A inflação e seus impactos

Em uma economia moderna, a inflação é um subproduto natural da movimentação do dinheiro e, desde que mantida sob controle, é desejável para a economia. Quando se aumenta a taxa de juros, diminui-se o consumo das famílias e o investimento privado, fazendo com que menos dinheiro circule na economia, o que reduz a pressão inflacionária.

A inflação pode ter diversas origens, incluindo inflação por oferta e demanda, inflação por aumento de impostos, inflação por desvalorização cambial e inflação por expansão monetária. Um exemplo recente ocorreu nos primeiros anos da década de 2020, quando a pandemia de COVID-19 pressionou as cadeias de suprimentos globais, causando inflação devido à falta de oferta de componentes.

O impacto da expansão monetária

Para entender como a inflação por expansão monetária corrói o valor do dinheiro da população, podemos estudar uma prática que ocorria na antiguidade conhecida como “degradação de cunhagem”. O governo recolhia moedas na forma de imposto, mas as derretia junto com outros metais antes de cunhá-las novamente, mantendo o valor de face. Quando essas novas moedas entravam em circulação, os comerciantes exigiam mais moedas para a mesma mercadoria, gerando um efeito inflacionário.

Esse exemplo demonstra que, apesar de os governos terem autonomia para emitir moeda, devem resistir à tentação de imprimir dinheiro para pagar suas dívidas, pois isso pode resultar em desvalorização e perda de poder de compra.

O verdadeiro valor do dinheiro

Por fim, podemos dizer que o verdadeiro valor do dinheiro está no seu poder de compra: a capacidade de trocar dinheiro por bens e serviços. O dólar americano é a moeda mais amplamente utilizada no comércio internacional devido à estabilidade da economia dos EUA.

O real, assim como o dólar, também é uma moeda fiduciária, tendo seu poder de compra afetado pela confiança na economia e na capacidade do governo brasileiro de honrar seus compromissos. Quando essa confiança diminui, os investidores tendem a vender ativos em reais para comprar ativos em outras moedas, principalmente dólares, causando a desvalorização do real.

Na economia do século XXI, para garantir o poder de compra de sua moeda, o governo precisa praticar disciplina fiscal e manter a inflação sob controle. A falha em garantir esses aspectos pode levar a um cenário de estagnação econômica ou até mesmo recessão.

Portanto, o equilíbrio dos indicadores econômicos é essencial para garantir a confiança dos investidores e preservar o valor do dinheiro no longo prazo.

Publicado por

Pedro Luis Figueiredo

Partner & Investment Analyst at Santa Fé Investimentos

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