A arte da precificação de um ativo é a principal habilidade que um analista financeiro ou investidor deve desenvolver para tomar decisões conscientes e racionais no mercado. Na faculdade e nos mais diversos cursos, aprendemos que nos princípios básicos de finanças todo ativo deve valer a sua capacidade de gerar recursos no futuro. Obviamente existem exceções e alguns possuem regras próprias e fórmulas específicas, um exemplo disso é o modelo Black-Scholes-Merton para opções. Agora, como podemos aplicar conhecimentos financeiros para determinar o valor justo das commodities?
Por definição, as commodities são produtos básicos que não se diferem independe de quem as produziu ou sua origem. Portanto, seu preço deveria ser uniforme e regido pela oferta e demanda global. No entanto, quando analisamos o cenário na prática, a realidade é bem diferente. Para esclarecer melhor como essa distinção pode acontecer tomemos o caso da soja como referência.
A soja, assim como a grande parte das commodities, pode ser negociada tanto fisicamente quanto em mercados organizados. O principal mercado de negociação de soja no mundo é a Bolsa de Valores de Chicago (CBOT), porém é possível encontrar contratos no mercado brasileiro (B3). Em Chicago, os contratos são 100% padronizados e negociados na unidade de centavos de dólar por buschel (Buschel é a unidade de capacidade utilizada para mensurar os contratos de soja e equivale a 27,21 kg de soja), possuindo uma data de vencimento que pode caracterizar a entrega física, algo que dificilmente ocorre. Agora, como que esse preço se reflete na realidade brasileira?
No Brasil, a soja é negociada no mercado físico em reais por sacas de 60kg e o seu preço varia de região para região conforme o exemplo abaixo retirado do site do CEPEA-USP:
Fonte: CEPEA ESALQ/USP
A questão que resta é: uma vez que não há diferenciação entre os produtos, como é possível valer mais ou menos conforme a região? A resposta nasce na fórmula utilizada para chegar no preço brasileiro:
Preço da Soja=(Cotação Chicago ± Basis) x Câmbio
Desta equação podemos derivar que o preço praticado nas praças brasileiras é diretamente relacionado com o negociado em Chicago e a sua transformação de centavos de dólares por buschel para reais por sacas, restando somente o “Basis” para diferenciar as praças.
O “Basis” é o que representa tudo que não é a cotação da bolsa ou o câmbio. Desta forma, ele engloba os custos logísticos, margens de intermediários, políticas públicas, fixações do produtor, descontos, prêmios de porto, entre outros fatores. E exatamente pela sua existência, que os valores variam conforme as regiões do Brasil.
Entender a formação de preço da soja auxilia a expandir o mesmo raciocínio para as demais commodities, uma vez que a lógica é a mesma. Vale ressaltar também que dado a sua negociação em bolsa, esses valores possuem alta volatilidade e isso é um dos muitos riscos que o produtor rural deve lidar!
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Partner & Investment Analyst at Santa Fé Investimentos