TRANSMITIR É NECESSÁRIO
Toda vez que pensamos sobre o desenvolvimento de uma nação é imprescindível associar este fenômeno ao crescimento da sua atividade econômica. Aquele país que é capaz de produzir mais, movimentar a sua economia e gerar mais riqueza, consequentemente pode melhorar a qualidade de vida de seus cidadãos. Dessa forma, é essencial entender que para se atingir o patamar desejado, é preciso que haja uma oferta de energia elétrica confiável e constante, afinal de contas, as grandes produções industriais, assim como os atletas de alta performance, precisam de “alimentação nutritiva” para render o esperado.
Trazendo este tema para a realidade brasileira, antes de qualquer análise, deve-se compreender como é composta a matriz energética do país. O Brasil possui proporções continentais, dentro do nosso território existem diversos biomas, relevos e climas, e exatamente por esta característica, que a própria geração de energia no país varia bruscamente conforme as especificidades de cada localidade.
Atualmente, existe uma concentração grande na geração hidrelétrica, muito em função do potencial hídrico brasileiro. Porém, é possível identificar que novas fontes de energia surgem conforme a aptidão de cada região do país. Como o gráfico abaixo demonstra, aproximadamente 64% da energia gerada no país é oriunda de fontes hídricas, em 2021, mas o número passa para 60% em 2025 conforme as estimativas do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico):
No entanto, a característica continental do Brasil, além de permitir a possibilidade de diversificação da matriz, também apresenta um novo problema: Como essa energia gerada em todos cantos do país será levada para os grandes centros?
Para solucionar tal questão, em 1998 o Ministério de Minas e Energia criou o SIN (Sistema Interligado Nacional) que é a rede de transmissão de energia unindo os mais longínquos pontos de geração aos principais centros de distribuição. Com isso, é possível que efeitos regionais como falta de chuvas ou até mesmo falta de ventos possam ser compensados por outras matrizes, evitando perdas significativas de produtividade nos grandes centros nacionais.
Mapa do SIN
Para compreender a dinâmica do SIN, estuda-se a própria dinâmica do setor de Transmissão de Energia no Brasil como um todo. Assim como nas outras duas vertentes (Geração e Distribuição), o Estado é quem dita as regras e controla as principais ações. O setor de transmissão é completamente regulado e possui no Ministério de Minas e Energia seu principal maestro. Abaixo do MME, a principal agência reguladora é a ANEEL (Agência Reguladora Federal), seguida de perto pela ONS.
Dinâmica de Regulação para o setor Elétrico no Brasil
Apesar de extremamente regulado, o mercado de Transmissão teve um grande boom no início da década de 90, tendo a Lei das Concessões, em 1995, abertas as portas para investimento privado e hoje grandes players de capital privado atuam neste ramo.
O modelo de regulação praticado pela ANEEL, para os contratos de transmissão, segue a batuta da RAP (Receita Anual Permitida). Esse tipo de concessão permite que cada empresa tenha um limite de receita em suas linhas de transmissão e subestações ajustado anualmente pela inflação. Os contratos de concessão são leiloados e o vencedor é aquele que ofertar a menor RAP. Existe também a parcela variável afim de incentivar o concessionário a ser mais eficiente na utilização de Capex e na disponibilidade da linha. O formato dos contratos pode variar de 3 formas:
Pela própria característica dos contratos (prazo e remuneração pré determinados), as empresas puramente de transmissão são mais defensivas e muitas encaradas como “Bonds”, ou quase renda fixa.
As oportunidades de crescimento para o setor de Transmissão são boas. Existem diversas opções para M&A’s em linhas existentes e com outras empresas, bem como um bom pipeline de leilões para este ano de 2021 e uma perspectiva de aumento significativo no número de linhas. O governo projeta aproximadamente 50.000 km de extensão em novas linhas e 160 GVA de novas subestações, totalizando um investimento de R$ 103,7 bilhão até 2029.
Evolução da Grade de Transmissão
Performance Setorial
Quando analisamos as grandes empresas de transmissão, é impossível não pensarmos no caráter defensivo e na previsibilidade de seus retornos. Por isso, muitas vezes essas empresas são comparáveis a títulos de renda fixa, os famosos “Bonds”. Uma análise interessante a se fazer sobre estas empresas então é utilizar o conceito básico de títulos de renda fixa para entender como essas ações se comportam no mercado. Sabe-se que a relação entre a taxa e o PU de um título é inversamente proporcional, dessa forma o preço das empresas que se aproxima e “Bonds” possuem um comportamento semelhante com a taxa Selic quando observamos a tendência de longo de prazo.