VOCÊ ACREDITA EM 100% DE CONSENSO?
“Compre ao som de canhões, venda ao som de trombetas” essa frase é atribuída ao Barão de Rothschild, dizem que na verdade ela deriva da expressão: “a hora de comprar é quando há sangue nas ruas” e ainda há quem diga“ compre quando houver sangue nas ruas, mesmo que o sangue seja seu”.
Sangue nas ruas é o que mais se vê na Faria Lima nos últimos meses. Poucos escaparam do que tem sido o maior massacre das “Small & Mid Caps” dos últimos tempos. Movimento provocado por uma onda gigantesca de resgates, ainda em andamento, de fundos de ações e multimercados, além da venda de investidores pessoas físicas e institucionais em franca migração para renda fixa.
Casas grandes sofreram resgates expressivos e nem mesmo a reabertura para captação foi suficiente para amenizar as perdas. Difícil de acreditar nesse cenário, mas fazendo uma retrospectiva, os pontos parecem se alinhar. Inúmeras Assets foram criadas nos últimos anos, com executivos vindos de bancos e suas tesourarias. Muita gente pensando do mesmo jeito, acreditando nas mesmas teses, investindo nas mesmas empresas, em um mercado que se mostrou pequeno demais para tanta gente. A porteira foi pequena na entrada e mais ainda na saída. Assistimos uma destruição de valor em nomes relevantes como Natura, Alpargatas, Lojas Renner, Magazine Luiza, Banco Inter, isso sem falar nas recém lançadas Techs brasileiras, muitas das quais simplesmente evaporaram perdendo 80/90% do valor em seus IPO’s. Teve muito gestor renomado que participou desse desmanche ficando literalmente com a brocha na mão.
As redes sociais também trouxeram uma dinâmica nova, muita informação disponível e muita coisa de qualidade discutível. Influencers de todo jeito e formato, com opiniões sobre tudo e todos e muita gente desavisada, acreditando em tudo que vê nas redes. Quando as “trombetas” tocavam todo mundo era gênio, mas depois vieram os “canhões” e sangue começou a rolar pelas ruas e os tiros ainda estão por aí e a derrama de sangue ainda não acabou. Muita gente entrou no mercado de ações sem saber o que estava fazendo e a conta chegou e o valor assusta.
Mas não posso deixar de mencionar o que mais se ouvia nas redes ao final de 2021: diversifique regionalmente, compre bolsa americana, tenha uma parte do seu patrimônio em dólar, etc. Estes conselhos podem até ser pertinentes, mas tudo tem sua hora, seu tempo e seu limite. Sair da Bolsa Brasileira e do Real com as piores performances mundiais para entrar nas bolsas americanas que subiram 25% ou mesmo no Bitcoin ou mesmo no Dólar a 5,75 não poderia acabar bem. O início de 2022 já mostra o tamanho do equívoco!
Mas vamos ao consenso! Sempre ouvi dizer que a unanimidade era burra e isso nos mercados é uma grande verdade. 100% de consenso significa exaustão, significa trombetas ou canhões ecoando, significa que é hora de fazer o contrário do que todo mundo está fazendo. Tivemos consenso nos 130 mil pontos do Ibovespa assim como tivemos consenso nos 100 mil pontos, tivemos consenso que era para ficar fora de Brasil e investir no exterior…. e temos consenso que os juros americanos vão subir e causar um estrago enorme!!! 100% dos gestores acreditam nisso hoje!!!
Para finalizar vou tentar mostrar no que a Santa Fé está acreditando. Sim os juros vão subir nos EUA; o FED não tem outra saída; muito disso já está precificado na curva de juros, mas ajustes podem acontecer pelo caminho; a economia americana segue forte e esse ajuste será benéfico no médio e longo prazos. Em outros ajustes, a capacidade das empresas americanas de aumentarem seus ganhos de produtividade foi determinante no combate à inflação, mas não vejo ninguém falando nisso agora, ainda mais depois de todas as mudanças e transformações trazidas pela pandemia, como diria Warren Buffett: “Never bet against America”.
Sempre que um cenário de correção na política econômica ocorre nos EUA, o fluxo dos investidores migra para onde os ganhos parecem maiores, ainda que momentaneamente e nesse cenário os países emergentes costumam se destacar. Funciona mais ou menos assim: os grandes investidores mundiais que experimentaram ganhos expressivos surfando a onda de crescimento das empresas americanas vislumbram uma desaceleração nesse processo e vão em busca de oportunidades que ficaram descontadas.
O Brasil foi o país com o pior desempenho do mercado de ações nos últimos anos, nossas empresas estão capitalizadas, desalavancadas e com múltiplos extremamente convidativos. O Real foi a moeda que mais se desvalorizou nos últimos anos em especial em 2020 e 2021 e nossa taxa de juros é hoje uma das maiores do mundo pois nosso BC já está muito à frente no ciclo de ajuste monetário, visando trazer nossa inflação para a meta. E, para completar, somos os maiores exportadores de commodities do mundo.
Parece que em breve o som dos canhões vai cessar por aqui, mas tire você suas conclusões.
Publicado por
Paulo Battistella Bueno
Partner & Portfolio Manager at Santa Fé Investimentos