Durante o último sábado (07), fomos surpreendidos com a invasão e ataque do grupo terrorista Hamas contra o Estado de Israel. O conflito já se tornou o mais chocante da história da Faixa de Gaza e dos últimos 50 anos de Israel. De acordo com o portal de notícias Al Jazeera, mais de 4000 pessoas foram mortas durante o confronto até o momento. Uma grande parte das vítimas são civis, entre elas crianças, mulheres e idosos que foram cruelmente atacados por esses terroristas ou levados como reféns.
O Hamas foi constituído no fim dos anos 80 como um grupo radical islamita dedicado a destruir o Estado Judeu e a substituí-lo por um Estado Islâmico. Governam a Faixa de Gaza desde 2007, uma das regiões de maior densidade demográfica do mundo, contendo uma faixa litorânea de 40km com mais de 2 milhões de habitantes, possuindo fronteira com Israel e Egito, conforme pode ser observado na Figura 1.
O Irã é o principal apoiador do grupo terrorista islâmico Hamas com cerca de US$ 100 milhões por ano. O grupo recebe financiamento, armas e treinamento dos iranianos, bem como alguns fundos angariados em países do Golfo. O grupo terrorista libanês, Hezbollah, também tem reiterado apoio ao Hamas.
Do lado de Israel, o principal apoiador são os Estados Unidos. Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, Israel é o país do mundo que mais recebeu, cumulativamente, recursos dos EUA. Entre 1946 e 2023 foram estimados US$ 260 bilhões (o equivalente a mais de R$1,3 trilhão) segundo relatório do Congresso americano, apenas em 2023 foram recebidos US$ 3,8 bilhões em auxílio militar.
Toda essa barbárie que vem acontecendo tem provocado tensões geopolíticas entre muitas nações. Há um certo risco de o Irã participar ativamente dessa guerra, provocando um cenário ainda mais devastador. O atual presidente americano, Joe Biden tem tentado apaziguar o combate, com mensagens para que o Irã se abstenha de intensificá-lo. Nesse sentido, o atual Secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, esteve em Israel nesta segunda-feira (16), reunindo-se com autoridades israelenses para apelarem que se evite um combate direto com o Irã, conforme pode ser observado na Figura 2.
O presidente Joe Biden também fez questão de ir pessoalmente ao local, com viagem marcada para esta terça-feira (17). Irá se encontrar com Benjamin Netanyahu (Primeiro Ministro de Israel), além do Abdullah II (Rei da Jordânia), Abdul Fatah Khalil Al-Sisi (Presidente do Egito) e Mahmoud Abbas (Presidente da Autoridade Palestina). Esses encontros têm um significado relevante do lado dos EUA e demonstram o empenho da maior potência econômica e militar do mundo em evitar o confronto.
Além de toda tragédia humana que esse conflito tem gerado, é possível termos consequências severas nas economias pelo mundo e no sistema financeiro global, caso essa guerra perdure. O principal alvo seria o petróleo, o ativo dos mais voláteis e inflacionários do mundo. Tem forte dependência dos países dessa região. O Irã, por exemplo, tem uma produção de cerca de 4% da global. Kuwait, Iraque e Arábia Saudita, representam 3%, 4,6%, e 12,2% respectivamente.
Em um possível envolvimento do Irã, uma possível ofensiva do lado deles seria o bloqueio do Estreito de Ormuz. Esse ponto de estreitamento ao norte do Mar Arábico, entre o Golfo Pérsico e o Golfo de Omã (Figura 3), é de extrema importância para a commodity, pois diariamente navios petroleiros transportam mais de 20 milhões de barris de petróleo bruto.
Caso isso venha a acontecer, poderemos ter o barril de petróleo negociado acima dos US$ 100, trazendo um desafio muito grande para os bancos centrais espalhados pelo mundo. Desde o início do conflito, já tivemos uma alta de cerca de 8%. Continuando, esse movimento acarretaria em aumentos significativos nos preços dos combustíveis em todo mundo e complicações com a inflação, inibindo o movimento de queda de juros da maior parte dos países.
Essa tensão com o petróleo já fora notada em diversas ocasiões envolvendo os países do Oriente Médio, como na Revolução Iraniana (1979), Invasão do Kuwait (1990), Invasão do Iraque (2003), Primavera Árabe (2010). Em todos esses eventos, o preço do barril do petróleo teve bastante volatilidade e trouxe muitas incertezas aos mercados. Ativos considerados seguros, como dólar e ouro também tem bastante procura nesses cenários.
A perspectiva atual sugere que o Irã não irá entrar ativamente em guerra, segundo um representante da missão do Irã na Organização das Nações Unidas (ONU) em Nova York comunicou à agência de notícias Reuters.
Percebe-se que o conflito vem trazendo profundas consequências negativas para israelenses e palestinos, ainda podendo ter uma escalada com entrada de países vizinhos e impactos em todo resto do mundo. Há dúvidas quanto às proporções que essa guerra poderá assumir e por quanto tempo perdurará, porém, temos a certeza do quão destrutiva está e continuará sendo para as comunidades israelenses e palestinas. Seguiremos acompanhando o transcorrer e eventual desfecho dessa trágica guerra (santa?).
Publicado por
Ricardo Leite Franco Filho
Partner & Investment Analyst at Santa Fé Investimentos