Memórias de um gestor e o crash do petróleo
O dia 20 de abril de 2020 vai ficar na história dos mercados e será objeto de estudo nas universidades e de muita conversa de botequim. Nesse dia histórico o WTI contrato futuro de petróleo com vencimento em 21/4/2020 chegou a bater – 38 dólares!!! Difícil de acreditar mas é isso mesmo quem comprou esse contrato precisaria pagar esse valor de 38 dólares para não precisar receber fisicamente o barril de quem vendeu lembrando que o petróleo permite a entrega física e que essa entrega é bastante complexa, nada trivial.
Nos meus 30 anos de mercado nunca tinha visto nada igual, já havia escutado que algo assim poderia acontecer devido a situação do mercado mas confesso que até ver com meus próprios olhos ontem, não acreditava. Na verdade não foi o preço do petróleo que ficou negativo e sim o custo de armazenagem que explodiu devido a queda brutal na demanda e o aumento na produção pela Rússia e Arábia Saudita que em março declararam uma guerra de preços.
Em 2002 quando o mercado percebeu que o Lula iria se eleger, tivemos uma distorção enorme no mercado de câmbio, o desespero dos estrangeiros pra levar o dinheiro embora do Brasil era tão grande que o dólar comercial físico era cotado com um ágio de 10% sobre o contrato de dólar futuro que vencia em quinze dias, lembro desse dia
como se fosse ontem, fizemos uma operação de venda de 20 milhões de dólares no físico casado com uma compra dos mesmos 20 milhões em dólar no futuro, na véspera do vencimento 10 dias após a operação recompramos o dólar físico e zeramos o futuro praticamente na paridade, foram 2 milhões de dólares de lucro com apenas um telefonema!!!
Recentemente o mercado de juros em alguns lugares do mundo em especial na Suíça e zona do Euro as taxas de juros pagas pelos governos passaram para o negativo, ou seja o investidor paga para comprar um título do governo Suíço por exemplo, outro dia vimos uma captação da Berkshire Hathaway holding do investidor Warren Buffet, com impensáveis juros negativos também!
Também vale recordar a crise de marcação a mercado que aconteceu em 31 de maio de 2002 quando o Banco Central mudou as regras de precificação dos títulos de renda fixa obrigando os fundos a marcarem a mercado os títulos que carregavam em carteira, seguindo o mercado secundário praticamente inexistente na época e provocando uma queda generalizada nos fundos de renda fixa deixando muitos investidores sem saber o que estava acontecendo e muitos gestores falando sozinho com uma onda de saques sem precedentes na indústria de fundos no Brasil.
Também vivi o 11 de setembro! Mas nada se compara ao dia 20/04/20, quem trabalha no mercado financeiro está acostumado a mudanças inesperadas e muita volatilidade, mas cada vez mais me surpreendo com a capacidade do mercado de exacerbar distorções e esse crash do petróleo é mais uma prova disso.