QUAL A IMPORTÂNCIA DAS COMMODITIES PARA A ECONOMIA DO BRASIL?

Sempre escutamos que o Brasil é natural produtor de commodities e não é à toa que, nos últimos anos, a exportação desses produtos representou, em média, mais de 6% do PIB brasileiro. Mas afinal, o que são commodities? 

Commodities podem ser definidas como mercadorias básicas, matérias primas fungíveis utilizadas para produção de outros produtos industrializados, e que são comercializadas em seu estado bruto com pouco valor agregado. Algumas das características desse tipo de bens são: a comercialização em larga escala em bolsas internacionais, alta demanda global, seguem padrões internacionais de qualidade e apresentação para comércio, tendo seus preços definidos pela relação entre oferta e demanda. 

Costumam ser divididos em duas categorias: Hard e Soft. A 1ª abrange produtos resultantes de recursos naturais, que devem ser minerados ou extraídos, como diferentes tipos de metais e petróleo. Já a 2ª categoria se refere a produtos agrícolas ou pecuários que podem ser cultivados e criados, como soja, milho, trigo, café, algodão, açúcar e carne.

Um indicador muito utilizado para medir a performance das commodities nos mercados globais é o índice do Commodity Research Bureau (CRB), que mede a direção do preço agregado de vários tipos de commodities. O índice é composto por uma cesta de 19 mercadorias, com 39% destinado a contratos de energia, 41% para agricultura, 7% para metais preciosos e 13% para metais industriais. O CRB foi projetado para isolar e revelar o movimento direcional dos preços no comércio global de commodities. 

O gráfico abaixo demonstra o crescimento do PIB brasileiro e a variação do índice CRB entre 2005 e 2019. A similaridade entre o comportamento das duas curvas pode ser explicada pela alta correlação linear positiva de 77% entre as variáveis.

Em 2020, o PIB do Brasil encolheu 4,1% e, de acordo com dados da Secex, as exportações brasileiras caíram 6,1%. Por outro lado, as exportações do agronegócio tiveram aumento de 4,1% em relação a 2019, somando um total de US$ 100,8 bilhões, equivalente a 48% do total exportado pelo país em 2020. 

Dentre os diferentes produtos exportados do setor agropecuário, os 5 que obtiveram maior destaque em 2020, segundo os dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), foram a soja, as carnes, o açúcar, a celulose e o milho. O complexo de soja (grãos, farelo e óleo), foi o protagonista do setor com US$35,2 bilhões exportados. O segundo lugar é ocupado pelas carnes, totalizando o montante de US$ 17,2 bilhões, representado em 49,4% pela carne bovina, 34,9%  aviária e o restante proveniente da carne suína. O Açúcar de cana ou beterraba ocupa a terceira posição no ranking, arrecadando US$ 8,7 bilhões de dólares em exportações. Em quarto lugar encontra-se a celulose, somando o valor de US$ 5,9 bilhões exportados, e por último o milho, totalizando US$ 5,8 bilhões de dólares.

O Brasil ocupa posições de destaque entre os principais produtores de commodities mundiais. Os quadros abaixo demonstram a posição do país nos rankings de produção, no ano de 2020, de algumas mercadorias classificadas como soft commodities.

A relação entre exportações e consumo doméstico de algumas dessas commodities produzidas em solo nacional, no ano de 2020, pode ser visualizada pelo gráfico de barras abaixo:  

De acordo com dados do International Monetary Fund (IMC), o PIB da China cresceu 2,3% em 2020, enquanto o PIB global encolheu 3,3% devido aos efeitos da pandemia do COVID-19. Em linha com esse crescimento, a China foi o maior parceiro comercial do Brasil em 2020, aumentando o valor de bens brasileiros importados em 7,3%, em relação a 2019, e totalizando o valor de US$ 70 bilhões. Desse montante, 48,6% ou US$ 34 bilhões são referentes a produtos do setor do agronegócio, um incremento de 9,8% em relação ao ano anterior.

No final de 2020, com a retomada da atividade e crescimento econômico global, em especial na China, o mundo foi surpreendido pela alta demanda por commodities e produtos básicos, para recompor suas cadeias produtivas e estoques desabastecidos. Com tamanho salto repentino da demanda por essas mercadorias, suportada pelas projeções do IMC de crescimento da economia global na casa dos 6% em 2021, no caso da China esse valor é de 8,6%, podemos observar uma forte pressão nos preços das commodities em geral.  Nos gráficos abaixo podemos observar alguns desses aumentos.

A valorização média desses produtos, em 12 meses, foi de 77,95%, puxada por 105,6% de valorização do preço da soja, 83,5% do milho, 73,5% do açúcar e 49,2% do preço do algodão.  Como citado anteriormente, os preços das commodities são dados em dólar, devido a sua cotação, predominantemente nas bolsas americanas. A soja e o milho tem seus preços definidos em dólares por bushel (unicidade de volume equivalente a 35,2 litros). Já no mercado nacional, a soja e o milho são comercializados em reais por saca (uma saca equivale a 60 quilos), um bushel de soja corresponde a 27,2 quilos enquanto um bushel de milho equivale a 25,4 quilos. 

Além da valorização expressiva dos preços nominais das commodities, observamos ao longo dos últimos anos uma forte valorização do dólar sobre a moeda brasileira, o que contribui ainda mais com a geração de receita do produtor. O gráfico a seguir demonstra a valorização da moeda norte americana sobre o real brasileiro.

O produtor de commodities tem a opção de fazer a venda de seus produtos no mercado futuro, devido a suas cotações em bolsa e alta demanda com grandes volumes negociados, e fazem uso dessa ferramenta para se proteger da volatilidade de preços e garantir suas margens. Com o forte movimento de preços visto nos últimos 12 meses, grande parte dos produtores adiantou grande parte da venda de sua produção a preços menores do que os vistos hoje. Com isso, o preço médio de venda dos produtos comercializados em 2021 deve ser maior do que os realizados em 2020. Já o preços médios para da safra 21/22 devem ser ainda mais próximos aos altos valores que observamos no momento. 

O gráfico abaixo nos permite comparar a performance de três empresas listadas na B3, atuantes no setor, contra a performance do índice Ibovespa. As empresas são Brasilagro, SLC Agrícola e São Martinho, que se beneficiaram desse momento de alta de commodities e, se as projeções se mantiverem, devem continuar performando bem no curto e médio prazo.

Publicado por

Pedro Massi de Brito

Investment Analyst na Santa Fé Investimentos