Na última sexta-feira (08/12) ocorreu o Investor Day da Weg em Jaraguá do Sul (SC), reunindo investidores atentos à trajetória da empresa. O presidente do Conselho de Administração, Décio da Silva, anunciou a sucessão do atual presidente, Harry Schmelzer Júnior, após 16 anos à frente da presidência da companhia. O cargo será assumido por Alberto Yoshikazu Kuba, executivo com mais de 21 anos de experiência na Weg e atual Diretor Superintendente da divisão de Motores Elétricos Industriais. A transição está programada para 31 de março de 2024, marcando uma nova era na liderança.
Os representantes do acionista controlador também revelaram que proporão o nome de Harry Schmelzer Júnior para a Assembleia Geral Ordinária de abril de 2024, como candidato a um dos assentos no Conselho de Administração para o biênio 2024/2025.
Alberto Kuba será apenas o quarto diretor-presidente da companhia ao longo dos 62 anos de história. Décio da Silva enfatizou a cultura forte que a companhia possui e que os mandatos dos diretores não devem ser curtos pois assim não daria tempo de realizar a curva de aprendizado e nem de solidificar a liderança. Entretanto, sem mudanças, isso pode prejudicar a inovação e gerar excesso de confiança do ocupante do cargo.
No cenário econômico de 2023, a Weg enfrentou uma desaceleração na demanda, especialmente em negócios de ciclo curto, como motores comerciais, eletroeletrônicos e automação. No entanto, há de se destacar também a aquisição da Regal Rexnord Corporation com sede nos EUA e presença global, por US$400 milhões, a maior da história da empresa, ampliando sua presença em motores elétricos e geradores com 10 fábricas e 11 filiais comerciais. A Regal Rexnord registrou uma margem EBITDA de 9,5% em 2022, patamar bem abaixo dos 22% da WEG. Dessa forma, devemos observar uma acomodação ou queda das margens nos próximos trimestres, até atingir uma maior eficiência na operação.
A empresa tem procurado acrescentar novas linhas de receita para compensar esse hard market. Uma das oportunidades de crescimento que foi bastante citada é do mercado de mobilidade elétrica. As vendas de carros elétricos seguem muito fortes na China e na Europa, com taxas de crescimento anual superiores a 25% e representando cerca de 30% e 14% da venda total de veículos, respectivamente. No Brasil, esse mercado continua crescendo forte também e atingiu uma participação de 3% das vendas. Podemos observar na Figura 1, dados referentes às vendas de carros elétricos nos últimos anos da International Energy Agency (IEA).
Todo esse ecossistema irá necessitar de soluções para veículos elétricos e a WEG vem desenvolvendo produtos e parcerias neste sentido. Estações de recarga, por exemplo, serão bastante demandadas para veículos leves, em casas, condomínios e para veículos pesados, em centros de distribuição e terminais, conforme pode ser observado na Figura 2. Acordos de fornecimento dessa tecnologia com montadoras como a GM, Chevrolet, GWM e Volvo têm sido firmados nos últimos meses. Também foi anunciado recentemente um projeto de instalação de 25 estações de recarga com a rede de postos GRAAL. Esperamos que esses anúncios, cada vez mais, sejam intensificados.
Outra grande oportunidade de crescimento que pode ajudar a alavancar a receita nos próximos anos é em transmissão e distribuição de energia nas Américas. No Brasil, leilões de transmissão de energia vem acontecendo com um volume maior e uma parte desses investimentos serão direcionados à WEG, conforme observado nos investimentos previstos na figura 3.
Com relação aos EUA, um pacote de investimentos no combate às mudanças climáticas deve favorecer a companhia. A Lei de Redução da Inflação (IRA) foi aprovada em 2022 e deve direcionar cerca de US$370 bilhões nos próximos anos, impulsionando energias renováveis e tecnologia limpa. Com isso, o mercado de transformadores deve ter um crescimento importante nos próximos anos, favorecendo a WEG, por ser um dos principais players da região.
Acerca do México, os efeitos do nearshoring são cada vez mais visíveis, o ritmo de crescimento de investimentos no país tem sido muito forte. A oferta de energia não deve acompanhar a demanda nos próximos anos e com isso há uma expectativa de incentivos para acelerar esse aumento de capacidade necessário.
Investimentos em aumento da capacidade produtiva continuam sendo relevantes, destinando cerca de 5% da Receita Líquida. Incluem-se investimentos de US$ 18 milhões em ampliação para fabricação de aerogeradores na Índia, US$ 12 milhões na expansão da fábrica de motores na China, US$ 40 milhões em um terreno de 640.000 m² próximo ao maior parque industrial da WEG no México, US$ 25 milhões na expansão da fábrica em Portugal e R$ 87 milhões na serralheria e nova fábrica de interruptores em Itajaí (SC).
A Weg mantém sua robusta estratégia de expansão no cenário nacional e internacional, buscando crescimento de dois dígitos com margens sólidas e significativo retorno sobre o capital investido. A habilidade de execução dos planos da empresa por seus líderes se destaca como um diferencial, juntamente com um poder de inovação que se reflete em 59% do faturamento convertido em produtos lançados nos últimos cinco anos.
A leitura geral que tivemos é que as perspectivas de longo prazo para a companhia continuam muito positivas, porém no curto prazo deve ocorrer uma desaceleração importante. O mercado já vem precificando essas previsões e por isso a ação da companhia tem performado aquém do índice Ibovespa. Entretanto, sabemos da enorme capacidade da empresa de surpreender positivamente e continuamos acompanhando os próximos passos no detalhe.
Publicado por
Ricardo Leite Franco Filho
Partner & Investment Analyst at Santa Fé Investimentos