“CAMINHADA ESG, Nº 3” – CARBONO, ESG E A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL 4.0

A Santa Fé comemora hoje a ­­neutralização de suas emissões de CO2 para o ano de 2020. Alcançar a neutralidade de carbono ou, no jargão mais comum, “compensar nossa pegada de carbono”, significa dizer que a produção de dióxido de carbono de nossas operações tem um impacto líquido neutro sobre o meio ambiente. 

Essa é apenas uma iniciativa na “Caminhada ESG” da Santa Fé, que está implementando sua estratégia para valorizar investimentos “responsáveis”, na acepção moderna do termo. Olhamos para nossa carteira de investimentos, mas começamos olhando para nós mesmos. 

E por que esse ato é tão relevante?

Toda essa discussão sobre o excesso de carbono na atmosfera e seu impacto nos sistemas naturais e no aumento da temperatura global surgiu pela constatação de que os inúmeros benefícios das diferentes fases da Revolução Industrial deixaram como subproduto, ou “nosso lixo”, uma quantidade excessiva de carbono na atmosfera. É por isso que Klaus Lackner, diretor do “Center for Negative Carbon Emissions e professor da Arizona State University, define o problema do carbono como um problema de “gestão de resíduos”. 

As consequências desse aumento do dióxido de carbono na atmosfera já são conhecidas. Como os gases de efeito estufa aprisionam o calor, com maior aquecimento os oceanos começaram a subir, os furacões pioraram, aumentam os incêndios florestais, ocorrem ondas de calor sufocantes e o clima torna-se mais extremo. Essa alta concentração de carbono traz muitos perigos ambientais e foi considerada entre os riscos mais emergentes à humanidade pelo Fórum Econômico Mundial, no seu Relatório anual de Riscos Globais de 2020.

Vamos a um pouco de história: A Primeira Revolução Industrial ocorrida, sobretudo, na segunda metade do século 18, introduziu a produção em escala e as máquinas alimentadas por combustíveis fósseis. A Segunda Revolução Industrial (1850-1945) envolveu o desenvolvimento de indústrias química, elétrica, de petróleo e aço, a invenção do avião, a expansão da malha rodoviária em todo o mundo, dentre outras. Esses processos históricos transformadores levaram a um aumento significativo na queima dos combustíveis fósseis (carvão, petróleo, gás natural, entre outros), que elevou significativamente a concentração média de CO2 na atmosfera. Para se ter uma ideia, começamos a revolução industrial com 280 partes de CO2 por milhão na atmosfera. Atualmente temos 415 [ppm] (e estamos subindo 2,5 ppm por ano neste momento).

Foi durante a terceira revolução industrial (1950 – 2010), marcada pela era digital, pela criação da Internet, pelas telecomunicações e pela introdução de novas fontes de energia, que, em novembro de 1988, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC na sigla em inglês) das Nações Unidas lançou seu primeiro relatório alertando para os riscos desse nível elevado de carbono na atmosfera e para necessidade de “mudanças sem precedentes” para limitar aumento da temperatura global. Desde 1988, há uma mobilização crescente em torno do tema.

A quarta revolução industrial iniciou-se em 2011, segundo dados de Klaus Schwab, presidente do Fórum Econômico Mundial, e autor do livro “A Quarta Revolução Industrial”. Essa fase transformará fundamentalmente a forma como vivemos, trabalhamos e nos relacionamos, e apresentará ao mundo, muito provavelmente, inúmeras tecnologias e processos que vão contribuir para reduzir as emissões ou a concentração de carbono na atmosfera. Temas como nanotecnologias, neurotecnologias, robôs, inteligência artificial, biotecnologia, sistemas de armazenamento de energia, drones e impressoras 3D fazem parte desse futuro, que vem acompanhado da tentativa de caminhar em direção ao cumprimento do estabelecido por cada país no Acordo de Paris e dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da ONU. 

Como se espera obter a mitigação das emissões de CO2 na atmosfera ou mesmo sua redução?

Uma forma de promover a redução de emissões é fomentar o uso de energia renovável, o aumento na eficiência energética de diferentes tecnologias, a diminuição do desmatamento e a redução dos superpoluentes, como os hidrofluorocarbonos (HFCs). Esses tópicos vêm sendo abordados de forma expressiva nos “frameworks” de ESG, que traduzem aos investidores responsáveis a forma como empresas endereçam cada um destes tópicos.

Outra forma, considerada essencial pelos estudiosos de clima, é ir além da redução de emissões e promover a captura do carbono que já se encontra na atmosfera. “O número de coisas que teriam que acontecer sem a captura direta de ar é tão extenso e variado que é altamente improvável que sejamos capazes de cumprir o Acordo de Paris sem ela”, diz Ajay Gambhir, pesquisador sênior do Instituto Grantham para Mudança Climática da Universidade Imperial College London.

A maneira mais conhecida de capturar carbono do ar é através do plantio de árvores. Árvores e plantas convertem o dióxido de carbono de volta em oxigênio, usando a fotossíntese. A iniciativa internacional “1t.org”, conduzida pelo Fórum Econômico Mundial e financiada pela Fundação Marc R. Benioff, bilionário CEO da Salesforce, visa restaurar e cultivar um trilhão de árvores até 2030 para mitigar as mudanças climáticas. 

Mas se plantar árvores é importante, não parece ser suficiente para endereçar os problemas causados pela alta concentração de carbono na atmosfera. Tom Crowther, professor titular de Ecologia do Ecossistema Global na ETH Zürich e consultor científico chefe da Campanha de Trilhões de Árvores das Nações Unidas, reforça a importância das soluções combinadas, que incluam também a captura de carbono emitido por processos industriais e seu armazenamento no subsolo em formações geológicas. O termo é chamado “Captura, utilização e armazenamento ou Sequestro de Carbono” (CCUS).

Existem diversos projetos comerciais de CCUS, em grande escala, em todo o mundo. Um exemplo nos Estados Unidos está em Decatur, Illinois, onde a gigante de processamento de alimentos Archer Daniels Midland Company lançou um projeto de captura e armazenamento de carbono em 2017. Tem capacidade para retirar 1,1 milhão de toneladas de carbono por ano das emissões, liberado por uma fábrica de processamento de milho e armazena esse carbono a uma milha e meia no subsolo.

Outro exemplo inovador é a fazenda Mechanical Tree[1], desenvolvida pelo professor da ASU Klaus Lackner e a Silicon Kingdom Holdings, uma empresa de Dublin. A fazenda atuará como um dispositivo passivo de captura de CO2.

A tecnologia, semelhante às árvores reais, suga o dióxido de carbono do ar em taxas mais rápidas do que a natureza para ajudar a reduzir as emissões globais de carbono. Eles podem armazenar o carbono que coletam, removendo-o da atmosfera permanentemente. As árvores mecânicas não requerem energia para funcionar e puxam o dióxido de carbono do ar à medida que o vento passa por elas. Quando as árvores estão cheias de dióxido de carbono, elas entram em colapso e mantêm o carbono a ser armazenado. A primeira árvore mecânica do mundo ficará no Julie Ann Wrigley Global Futures Laboratory, previsto para ser inaugurado no campus de Tempe em dezembro de 2021.

Outros processos inovadores de captura de carbono vêm sendo desenvolvidos em todo mundo. Espera-se que a remoção de carbono desempenhe um papel fundamental na transição para um sistema de energia líquida zero, na medida em que se tornarem mais acessíveis e baratas. O tema é tão relevante para humanidade, que o fomento a estas tecnologias é o foco de um prêmio de U$ 100 milhões oferecido pela X Prize Foundation, uma organização sem fins lucrativos que projeta e hospeda competições públicas destinadas a incentivar o desenvolvimento tecnológico em benefício da humanidade[2].

Reduzir a emissão ou concentração do carbono na atmosfera, portanto, é um tema que diz respeito a todos nós, indivíduos, empresas, governos, e afeta a nossa segurança financeira de longo prazo. Ao usarmos critérios ESG para valorizar empresas que estão mitigando suas emissões, ajudamos a orientar a bússola da Revolução Industrial 4.0 para que os investimentos estejam alinhados ao sentido que a humanidade deve caminhar. Quando reduzimos nossas pegadas de carbono individuais, como fez a Santa Fé Investimentos em conjunto com a MOSS, estamos fazendo nossa parte.



[1] https://www.statepress.com/article/2020/10/spbiztech-the-worlds-first-mechanical-tree-is-to-be-built-at-asu-by-next-year

[2] Seu conselho de curadores inclui James Cameron, Larry Page, Arianna Huffington e Ratan Tata, entre outros.

Nos próximos meses, seguiremos compartilhando com vocês o passo-a-passo, as conquistas e os desafios da nossa “Caminhada ESG” na Santa Fé Investimentos.

Publicado por Ana Luisa Da Riva

Partner & Chief Sustainability Officer na Santa Fé Investimentos